Opinião

EDITORIAL | Um alerta oportuno

EDITORIAL | Um alerta oportuno
Crédito: Julian Wasser//Time Life Pictures/Getty Images

“Temos que lembrar sempre a feroz urgência do agora. Essa não é a hora de nos engajarmos no luxo de esfriar a luta ou de tomar a droga tranquilizadora do gradualismo. Essa é a hora de fazermos promessas verdadeiras pela democracia…será fatal para a nação se ela negligenciar com a urgência do momento”.

Por mais atual e pertinente que seja o conteúdo da citação que abre o comentário de hoje, por mais próxima que possa parecer da realidade que nos cerca, ela tem exatos 59 anos e faz parte do discurso do pastor Martin Luther King, feito em Washington, em agosto de 1963, quando ele declara ter o sonho de ver os Estados Unidos verdadeiramente democrático e, assim, livre do racismo.

Quem nos lembra do discurso e do trecho em particular é o jornalista Ascânio Seleme, do “Globo”, para dizer que ele guarda ensinamentos e um alerta que os brasileiros de hoje devem considerar. De fato o momento, a sucessão de abusos que vêm sendo cometidos, assim como as ameaças repetidas à exaustão, não podem ser desconsiderados e sem que se contraponha elementar defesa de valores, que, mais altos, são comuns a maioria dos brasileiros. Muito menos devem ser tratadas como meros arroubos, como se a fervura que vem sendo cuidadosa e deliberadamente alimentada não possa chegar a um extremo que poucos, muito poucos, desejam.

Não é nada difícil perceber o que se passa, num processo metódico e estudado de testar limites e que prossegue avançando justamente pela falta de reação, pela aparente indiferença ou contemporização que pode adiante se revelar fatal. Tudo isso numa tolerância que evidentemente não pode estar acima dos princípios e valores abraçados pelos brasileiros, assim transformados em causas pétreas da própria Constituição. Como ainda agora, num desejo tardio e oportunista de socorrer os mais necessitados, a ordem jurídica eleitoral é subvertida, com grave dano constitucional, para larga e onerosa distribuição de favores, na esperança de que adiante sejam convertidos em votos.

Não será inapropriado afirmar que a ruptura de fato já aconteceu, tantas foram as ocasiões em que provocações e ameaças ultrapassaram limites aceitáveis e próprios do jogo político. Na realidade um processo continuado de subversão, em que discurso e prática não convergem, que só se tornou possível porque houve tanto tolerância quanto cumplicidade, como acaba de acontecer, com riscos evidentes para a ainda bastante frágil democracia brasileira. Indiretamente, é do que nos falou Luther King.

Rádio Itatiaia

Ouça a rádio de Minas