Opinião

EDITORIAL | Um basta à especulação

EDITORIAL | Um basta à especulação
Crédito: REUTERS/Sergio Moraes

Muita gente gostaria que fôssemos, ou somos, um país de desmemoriados. Ninguém que se lembre dos primeiros anos da década de 70, da crise do petróleo quando, por imposição dos países produtores, liderados pela Opep, colocaram os consumidores de joelhos. Vale dizer, praticamente o mundo inteiro, num rol do qual fazia parte também o Brasil.

Àquelas alturas escapar da dependência e, consequentemente, da clara manipulação promovida pelos verdadeiros controladores dessa commoditie, cuja importância fica suficientemente clara quando se percebe que praticamente todos os conflitos do século passado, inclusive as duas grandes guerras, tiveram como verdadeiro pano de fundo exatamente o petróleo, era questão de vida ou morte.

O Brasil não escapou à regra, mas, felizmente, foi praticamente o único país no mundo que conseguiu incrementar, em volumes consistentes, sua própria produção de óleo, livrando-se da dependência externa e suas sujeições.

Mérito, por inteiro, da Petrobras, que produziu o quase milagre de prospectar e na sequência extrair petróleo em águas profundas, nos campos do pré-sal, com acesso a reservas que se contam entre as maiores do planeta e, não fosse por conta de outros erros e desvios, já teriam nos libertado do jugo internacional do petróleo. Essencialmente, a ênfase em investimentos em prospecção e extração fez com que ficasse de lado o refino, situação que nos obriga a vender óleo cru e comprar combustíveis refinados.

Esta é a condição que nos coloca, ainda, em posição de dependência, sujeitos portanto às flutuações e manipulações externas e, mais uma vez equivocadamente, a uma política de paridade de preços que não há como ser sustentada.

Mas não é o que pensa o “mercado”, essa entidade sem rosto e sem endereço, além de porta-voz do que há de pior na especulação internacional. Definitivamente a Petrobras não foi concebida para servir a estes interesses, assim como suas fartas reservas devem ser encaradas, fundamentalmente, como ferramenta, provavelmente a mais importante delas, de fomento da economia interna e da independência que não pode ser apenas retórica.

A empresa, por certo, tem a elementar obrigação de ser correta em todos os seus procedimentos, tem que gerar ganhos que a tornem sustentável e este deveria ser o balizamento de sua política de preços, que jamais deveriam ser atrelados à especulação externa ou a interesses minoritários. Vale, ou deveria valer, o Brasil, sua população, suas empresas, seus investidores, às claras e sem que prevaleça o que há de pior na economia contemporânea.

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