EDITORIAL: Um dia de vergonha
Diante dos acontecimentos de domingo em Brasília, a única coisa que não cabe é surpresa. A barbárie que culminou com invasão e depredação do Congresso Nacional, do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Palácio do Planalto vinha sendo gestada há exatos quatro anos, no período que coincide com o mandato do então presidente Jair Bolsonaro. O convite à desordem, os ataques às instituições e acusações jamais comprovadas, culminando pela afirmação de que só deixaria o cargo por ordem divina, explicam os acontecimentos. E fazem do ex-presidente, que não reconheceu a derrota, fugiu do País para escapar de riscos que muito provavelmente seria o maior conhecedor, em nenhum momento tentou, a sério, conter os que prosseguiram defendendo golpe de Estado para assim barrar o candidato legitimamente eleito, o principal culpado. Tudo isso e sem perder de vista que durante todo seu mandato cultivou relações altamente suspeitas com as áreas de segurança, policiais militares, Federal e Rodoviária, sem contar o “seu” exército, que não saiu da linha, mas pecou por omissão.
Diante disso cabe lembrar, em primeiro lugar, que, já no domingo, congressistas norte-americanos cogitavam de sua extradição, que pode acontecer, enquanto no Brasil chefes dos três poderes, inclusive o presidente do Superior Tribunal Militar (STM), repudiavam os acontecimentos, assegurando ao mesmo tempo que os culpados serão identificados e punidos com o rigor que a lei determina. Cabe assim entender que a escalada que não foi contida terminou e que, pela gravidade dos acontecimentos, sem paralelo na história, tenha sido, para os bolsonaristas, mais que um tiro no pé, talvez um tiro no próprio coração.
Está bem entendido que não houve ataque ao presidente Lula, ao Partido dos Trabalhadores, muito menos ao fantasma do comunismo. O ataque foi à democracia, ao Estado, vale dizer, a todos os brasileiros de bem, à enorme maioria que não concorda e não apoiou as sandices dos últimos tempos. Cabe agora chegar, e rapidamente, a quem financiou, a quem organizou e a quem se omitiu, cujas digitais serão facilmente encontradas seguindo a pista do dinheiro que pagou transporte, acomodação e alimentação aos mercenários ou terroristas que estiveram à frente dos acontecimentos de domingo, repudiados em boa parte do planeta.
Houve leniência e acomodação, a maioria preferiu o silêncio à reação, muitos deixando-se levar pela fábrica de mentiras que se valeram das redes sociais. Que seja diferente a partir de agora, que as pessoas de bem tenham afinal se dado conta de realmente onde está o perigo e quais são os desafios a vencer.
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