EDITORIAL | Um enredo já esperado

Em Brasília há quem diga que sempre que os holofotes apontarem numa única direção, como acontece agora com a Comissão Parlamentar Inquérito da Covid, será inteligente olhar no rumo oposto, muito provavelmente para enxergar o que não querem que seja visto.
É bem possível que a malandragem tenha sido repetida na semana que passou, quando, tão discretamente quanto possível, os senhores Geddel Vieira Lima, Eduardo Cunha e outros menos notórios foram absolvidos das acusações de que eram alvo, supostos integrantes do então chamado “quadrilhão do MDB”, com a sentença sustentando que a denúncia não descreve a prática de delitos por parte dos acusados, que houve abuso do direito de acusar e tentativa de criminalizar a atividade política.
Para quem possa ter esquecido, diante da rapidez com que algumas coisas costumam acontecer no País, Eduardo Cunha é o notório ex-presidente da Câmara dos Deputados, e Geddel Vieira Lima o deputado baiano que teria pedido emprestado um apartamento para esconder algumas dezenas de milhões de reais. Os dois não estavam sozinhos. Também sobrou para o ex-presidente Michel Temer, cujas comprometedoras conversas, altas horas da noite e num porão do Palácio dos Buritis, igualmente acabaram dando em nada, mesmo destino de seus ministros Eliseu Padilha e Moreira Franco, dos deputados Henrique Eduardo Alves e Rodrigo da Rocha Loures, todos agora apontados inocentes e perseguidos.
Para resumir, não será exagero concluir, caso dúvidas persistissem, que estamos diante do atestado de óbito da Operação Lava Jato e os que imaginavam, com uma candura talvez indesculpável, que a corrupção na esfera pública brasileira tinha encontrado seu fim, assim como a impunidade em que se nutria. O objetivo verdadeiro foi alcançado, a tarefa cumprida e o grande herói de toda essa farsa está devidamente abrigado, como consultor, indiretamente, numa das empresas que ajudou a desmontar. Velhos nomes, velhos métodos, tristes resultados e, resumindo, quase o mesmo enredo num momento particularmente duro da vida nacional.
Tudo pode se ajeitar, tudo tende à acomodação mas é preciso assinalar que pelo menos em parte os planos não se cumpriram, com a picada aberta para servir de atalho à rampa do Palácio do Planalto sendo tomada, com sucesso, por um candidato inesperado, frustrando alguns que esperavam mais que escapar da cadeia.
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