EDITORIAL | Um jogo irracional

O final da Segunda Guerra Mundial, em 1945, melhor seria descrito como o final de um capítulo. Os aliados venceram os nazistas, dando cabo ao reich de mil anos, e o poder global, com a Grã-Bretanha também devastada, passou a ser dividido entre Estados Unidos e União Soviética, destruindo rapidamente a decantada aliança sem a qual o destino da guerra poderia ter sido muito diferente. Hoje o reconhecimento faz parte da história, apontando a resistência e a força soviética na frente Oriental como o capítulo mais importante da guerra.
Passado o tempo, tudo isso parece contar pouco diante da máquina de propaganda montada e patrocinada pelos Estados Unidos, com duplo objetivo. De um lado, promover o american way of life, de outro demonizar os soviéticos, mantendo acesa a guerra fria por décadas, patrocinando ditadura mundo afora, inclusive no Brasil, ao mesmo tempo em que reclamava liberdade para os soviéticos, como se enxergassem como uma espécie de xerifes do mundo.
Agora o palco é a Ucrânia, como sempre falam em liberdade, como fizeram há pouco no Iraque, enquanto suas tropas vão se aproximando da Rússia, sob alegação de que defendem a Ucrânia. A rigor nada de novo nesse roteiro, nada que não tenha acontecido antes. Mas é difícil disfarçar a falsidade dos arautos da liberdade. E para isso, basta uma pergunta. Numa hipótese improvável, e claro, o que faria Washington se o Canadá, ou o México, fizessem algum tipo de aliança com russos ou chineses, prevendo deslocamento de tropas para seu território?
Começariam falando de provocação, para logo emendar que a integridade de seu território estaria sob severa ameaça. Aqui também o roteiro e o filme não trazem novidades ou alguém em Washington já se preocupou em escalarem a mentira de que existiria naquele país arsenal de armas químicas que foi o pretexto para a invasão?Expedientes que se repetiram incontáveis vezes ao longo do tempo e que pode estar voltando a acontecer agora porque ter pela frente um inimigo e encará-lo de armas encarrilhadas, não exatamente para utilizá-las, o que no caso é hipótese remota porque toda valentia tem limites, mas exclusivamente para manter acesa a ideia do medo, em que repousa a estratégia estadunidense.
Custa crer que tudo isso aconteça, ou volte a acontecer, no exato momento em que o planeta enfrenta uma pandemia que já dura dois anos e matou milhões de pessoas, além de colocar a economia diante de uma de suas mais difíceis situações. Cabe indagar se não é esta, afinal, a primeira e verdadeira das ameaças a ser enfrentada.
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