EDITORIAL | Um Natal à luz de velas

A hidrelétrica de Itaipu, maior do País e uma das maiores do mundo, está operando com cerca de um terço de sua capacidade, fato inédito e maior evidência das proporções da crise hídrica que o País tem pela frente. Enfrentando a maior seca em 91 anos, frustraram-se as esperanças de que a partir do mês de agosto as chuvas pudessem ganhar volume, devolvendo níveis de segurança às principais hidrelétricas. Não aconteceu e são baixas as expectativas de que a situação possa mudar nos próximos quatro meses, situação que produz reflexos nas mais variadas atividades, inclusive no consumo humano.
Agências que monitoram o sistema elétrico lançaram, em mais de uma oportunidade, sinais de alarme e na semana que passou o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) informou que provavelmente será necessário importar eletricidade de países vizinhos e ampliar a geração nas usinas termelétricas, inclusive pondo em operação algumas que permanecem desligadas. Um desafio de enormes proporções e para que isso seja bem compreendido que se está falando em entregar o equivalente à geração de Itaipu.
Nos escalões mais altos, de onde acaba de sair determinação para que no serviço público o consumo seja compulsoriamente reduzido imediatamente, enquanto já surgiram sinais de negociações com possíveis vendedores externos, o comportamento parece dúbio O problema é reconhecido, inclusive, com a volta da bandeira vermelha às tarifas, mas repetidamente as autoridades reafirmam que não haverá racionamento e, muito menos, apagão.
Na área técnica os alertas são bem diferentes e nas suas avaliações não entram a hipótese de recuperação dos reservatórios, mesmo que parcial, evidentemente, ou mudança drástica no regime de chuvas. Traduzindo, entre os meses de novembro e dezembro o suprimento de energia elétrica no País deverá estar contingenciado. Só falta saber até que ponto ou em que proporções exatamente.
Embora não haja como deixar de enxergar a defasagem existente do sistema elétrico brasileiro, que nos últimos anos perdeu investimentos até mesmo na manutenção, as dificuldades que se avizinham estão, de certa forma, na órbita do imponderável. Certo é que não se pode fazer de conta que tudo está em ordem e sob controle. Bem ao contrário, tudo indica que o País está se aproximando, e rapidamente, no que toca ao fornecimento de energia elétrica, de uma situação de emergência e os problemas decorrentes serão tanto maiores quanto menor for nossa capacidade, ou disposição, de reagir.
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