EDITORIAL | Um ponto esquecido

As metas que a administração federal definiu para a economia ou o que chama de “arcabouço fiscal” são, no mínimo, ousadas, prevendo déficit no corrente exercício, equilíbrio no próximo e superávit já em 2025. Será também uma batalha contra o relógio cujos ponteiros já estão girando, demandando esforço e disciplina que não serão pequenos, além de altamente dependentes do instável quadro político. Acertar ou alcançar as metas agora fixadas dependerá de expressivo crescimento da receita, algo que os formuladores da estratégia apresentada dão como certo e, portanto, da própria economia, já que elevar a carga tributária, pelo menos da boca para fora, não faz parte do cardápio.
Certo é que se trata de um esforço absolutamente necessário, inicialmente para que seja retomada a confiança dos agentes econômicos, dos quais se espera, em contrapartida, a reabertura da torneira dos investimentos. Tudo isso passando também pelo encaminhamento da reforma tributária, focada ao que se diz na simplificação e aumento da eficiência do sistema, podendo assim gerar receitas que hoje se perdem sem que os bolsos dos contribuintes sejam mais uma vez assaltados. Faz sentido e pode dar certo, desde que desta vez tudo não termine em comodismo e consequente imobilismo, com os interesses maiores do país sendo, de fato, colocados em primeiro plano. Também nesse viés não é pouca coisa, considerando que a oposição continua apostando no pior e jogando todas as suas fichas no jogo.
Cabe, então, esperar que a parcela majoritária da população, aquela que não caiu na armadilha da polarização, compreenda o que se passa e faça valer sua força, dando suporte a políticas focadas em resultados, começando por devolver impulso e consequência à gestão pública, que se perdeu por conta do labirinto de questões menores que passaram a ocupar e dominar o espaço político por completo, dissociadas do interesse coletivo. Sem que a realidade seja encarada, sem que possa ser afinal modificada, as chances de acerto são evidentemente bastante limitadas, ajudando a esvaziar o “pacote” agora apresentado antes mesmo que ele seja aberto.
Para quem realmente foca sua atenção e energias no Brasil e nos brasileiros o entendimento não pode ser outro. Temos necessidades, temos limitações contundentes, mas igualmente temos possibilidades, desde que em um cenário de mais foco e mais comprometimento. Inclusive para que possa ser incluída nas propostas agora apresentadas um ingrediente cuja ausência chama atenção. Falou-se muito, agora, em aumento das receitas, apresentado como ponto de sustentação das ações a serem empreendidas. Caberia também falar em redução de gastos, um terreno abandonado, esquecido, e por este motivo bastante fértil.
Ouça a rádio de Minas