EDITORIAL | Um silêncio ensurdecedor

Embora transcorridos 21 anos desde o início do século XXI, para o Brasil estas duas décadas foram marcadas por frustrações nos mais diversos planos e, na economia, uma espécie de marcha à ré e que nos custa no presente e cobrará muito das futuras gerações.
Recuperar o terreno perdido é desafio de enormes proporções que, mais dia menos dia, terá que ser enfrentado. É fato que o País parou no tempo, com a economia encolhendo, a população empobrecendo e os investimentos públicos congelados, situação que só não alcançou maior gravidade porque as metas e expectativas de crescimento não se cumpriram.
Bom exemplo é a questão da produção e distribuição de energia elétrica em que, depois dos grandes avanços da segunda metade do século passado, que estão entre as grandes marcas do ciclo de crescimento então experimentado, nada mais se fez. Assim, hoje, a perspectiva de racionamento ou desabastecimento, que parece bem próxima, não tem a ver somente com o regime de chuvas que caracteriza a maior seca dos últimos 90 anos. Se a economia tivesse crescido o esperado, o apagão, sabe-se lá em que proporções, já teria acontecido.
Está sendo lembrado um exemplo bem atual, mas o assunto é muitíssimo mais amplo, diz respeito à reparação e expansão de toda infraestrutura, com ênfase na de transporte de cargas. Construir e recuperar rodovias, implantar uma política exitosa de expansão das ferrovias e hidrovias, recuperar e expandir portos e fazer da navegação de cabotagem um dos pilares de todo o sistema, são questões vitais que a administração pública não parece considerar, apesar das advertências que não faltam.
Cabe refletir a respeito, cabe entender que sem que estas chaves sejam viradas – e não são as únicas, apenas as mais importantes – apenas continuaremos todos sonhando com a perspectiva de crescimento mais intenso e rápido, além de sustentável. Colocar estas questões, que estão na base das aspirações da maior parte dos brasileiros, bem pode parecer algo próximo do desvario quando o tempo e a atenção dos agentes públicos e dos políticos são dedicados a delírios como a questão das reclamadas mudanças no sistema de votação, preocupações que não têm a mínima razão de ser.
Pelas mesmas razões cabe apontar, denunciando, que fala-se muito nas eleições do próximo ano, em candidatos e preferências, enquanto permanece, em relação ao que é preciso fazer, num programa de Estado, permanente, e não apenas de governo, sobra tristemente apenas ensurdecedor silêncio.
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