Opinião

EDITORIAL | Um sonho abandonado

EDITORIAL | Um sonho abandonado
Crédito: REUTERS/Sergio Moraes

A Petrobras muda de presidente, mas não muda ideias. O atual, cujo nome importa menos que suas atitudes, acaba de informar que os preços dos derivados do petróleo estão defasados em 17%, anuncia novas majorações para os próximos dias, reafirma que a estatal não altera o curso de sua política e acrescenta; “não podemos nos desviar da prática de preços de mercado, condição necessária para a geração de riquezas não apenas para a companhia, mas para toda a sociedade brasileira…e para garantir o suprimento de derivados que o Brasil precisa importar.” Um discurso até bonito, porém com o pecado de esquecer de apontar que no País o gás de cozinha foi substituído, entre as famílias mais pobres, pela lenha e isso evidentemente para aqueles que ainda têm o que cozinhar.

Criar a Petrobras, no início dos anos 50 do século passado, foi um parto bastante difícil, em que não faltou a presença de missão técnica estadunidense para garantir que seria perda de tempo, uma vez que nestas bandas do mundo não existia petróleo. Vencendo resistências e com o debate – “o petróleo é nosso” – transformado na grande questão política do momento, ficou claríssima a intervenção externa, interessada em bloquear o acesso à riqueza que poderia transformar o País e, ao mesmo tempo, assegurar seu monopólio, o primeiro passo foi dado. Assim, e em menos de 30 anos, a nova empresa descobriu grandes reservas em águas profundas, teve que ouvir que não seria viável técnica e economicamente sua exploração e mais uma vez tudo saiu ao contrário, com o país passando a figurar entre os donos das maiores reservas mundiais até chegar, hoje, a produção média de 3 milhões de barris/dia, dos quais um terço é exportado.

Definitivamente não deu e não dá para mudar essa história. E lembrar, sempre, que este enredo foi imaginado não para satisfazer investidores, mas como peça estratégica destinada a garantir independência econômica e condições de crescimento maior, mais rápido e mais equilibrado, exatamente o que sugere agora o atual presidente da Petrobras, embora com sua fala totalmente fora de contexto. A empresa sonhada, erguida e operada por bons brasileiros, que produziu o milagre de extrair petróleo no mar e a quilômetros de profundidade, é muito mais que um ativo econômico, com objetivo único de satisfazer acionistas, maximizando lucros. Deveria ser entendida, na verdade, como patrimônio público, assegurando o suprimento de petróleo nas melhores condições possíveis, consideradas exclusivamente do ponto de vista dos interesses nacionais. Pensar diferente, queiram ou não, é pensar contra o Brasil.

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