EDITORIAL | Um sonho que chega ao fim?

Quando a Fiat chegou ao Brasil no início dos anos setenta era uma empresa independente, familiar, parte de um grupo altamente diversificado, que fabricava de navios a aviões, passando por locomotivas e até um time de futebol e um jornal.
Os tempos mudaram e a própria Fiat, que perdeu os herdeiros diretos de seus fundadores, passou por grandes dificuldades, enquanto a família Agnelli foi se desfazendo aos poucos de muitos negócios e em mais de uma ocasião tentou vender a própria Fiat Auto, que perdera grande parte de sua força no mercado europeu e chegou a ensaiar uma fusão com a General Motors.
Nessas alturas as operações no Brasil, mais especificamente em Betim, Minas Gerais, eram as maiores fora da Itália e, sobretudo, as mais lucrativas, já sem os 20% de participação acionária do governo de Minas Gerais. No mundo, a indústria de material de transportes como um todo passava por grandes transformações, marcadas por fusões e incorporações que parecia ser o destino das antigas grandes corporações, todas em busca de escala e redução de custos. Foi nesse contexto que a então Fiat Auto
se associou à norte-americana Chrysler, justamente quando a primeira anunciava a construção de uma nova fábrica no Brasil, em Pernambuco. Consta que por conta das facilidades oferecidas pelo então presidente Lula.
Foi um momento de inflexão para os negócios dos italianos em Minas, cujo comando passou às mãos de um brasileiro de origem alemã que enxergava a empresa, então rebatizada como Fiat Chrysler Automobiles (FCA), como o braço latino-americano do grupo, o que justificaria a transferência de seu comando para São Paulo, o que é negado sem muita convicção.
Minas Gerais, que praticamente levantara os capitais necessários à construção da fábrica de Betim, perdeu muito e disso parece não ter se dado conta até agora. E poderá perder mais, como resultado do novo movimento do grupo cuja associação à francesa PSA, dona das marcas Citroen e Peugeot, dando origem ao quarto maior grupo automotivo do mundo, perdendo apenas para Volkswagen, Renault-Nissan e Toyota em termos de volume de vendas, acaba de ser aprovado pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
Negócios são negócios e ponto final, poderão dizer os céticos. De nossa parte, preferimos tentar antecipar o que estas mudanças, que não constavam do Acordo de Comunhão de Interesses firmado há quase 50 anos, poderão significar para o Estado.
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