EDITORIAL | Um vazio incômodo

A diplomacia brasileira produziu nos últimos três anos um desastre de proporções abissais, levando o País, que chegou a ter uma cadeira no grupo dos mais influentes, mergulhar numa obscura importância, palavra que outros trocariam por algo bem mais forte. Do governo que começou com a ilusão de um namoro com o presidente Donald Trump, dos Estados Unidos, e passou por sucessivos atritos, a maioria despropositada, com a China, de longe o maior parceiro comercial do País, num incômodo que acaba de produzir o mais concreto resultado.
Diplomacia, em termos atuais e pragmáticos, significa entender o planeta dividido em dois grandes blocos e saber conviver com ambos, resguardando a própria independência e, num balé sempre delicado, sabendo também olhar para um e para outro, garimpando pontos de interesse comum. Definitivamente não foi o que o Brasil, que acaba de escolher o pior momento para enviar seu presidente em missão à Rússia, fez e o troco parece ter finalmente chegado. Estamos falando da Nova Rota da Seda, ambicioso programa de investimentos com o qual a China busca ampliar sua área de influência e de negócios. Na América Latina ficaram de fora Brasil, Colômbia e Paraguai, enquanto a Argentina espera atrair pelo menos US$ 30 bilhões em investimentos em infraestrutura.
Tal distanciamento, para aqueles que ainda vivem de propagar o tal perigo comunista, pode até soar vantajoso, não fosse a conclusão de que o Brasil acabou caindo no vácuo, sem receber de Washington o menor sinal de simpatia e assistindo, sem ter o que fazer, ao final da fantasia das relações especiais, que Brasília, no pior momento de sua diplomacia, imaginou ser possível manter a partir de uma amizade que na realidade nunca existiu com Trump. Os estudiosos, ou mais que eles, os fatos, apontam que a China conheceu nas últimas décadas um movimento ascendente contínuo, com um impulso que não parece mais possível conter.
São os fatos que ditarão o futuro e não há como ignorá-los, sobretudo quando se constata que o Brasil não está nem de um lado nem de outro, devendo entender o que se passa para retomar a política externa independente, sabendo fugir dos extremos de que nunca foi parte para se apresentar como parceiro confiável e competitivo, contribuindo na prática para demonstrar que a expansão da produção e do consumo é a verdadeira, a única, receita para o sucesso dos negócios em um planeta em que a redução das desigualdades é a maior das garantias de que a paz pode ser um negócio ainda melhor.
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