EDITORIAL | Um vazio preocupante

Em Brasília, nos corredores do poder, ultimamente fala-se muito de sexo dos anjos e o tempo vai passando sem que questões mais substanciais, aquelas que dizem respeito às emergências que o país enfrenta, sejam tratadas.
Caso emblemático da reforma da Previdência, que a estas alturas já deveria pelo menos estar definida e consolidada, mas vai sendo postergada e perdendo fôlego. Já não se fala mais no trilhão de reais que o ministro Paulo Guedes esperava economizar em dez anos.
São sinais de problemas bem mais profundos, de uma administração pública que perdeu o controle de suas contas, não parece saber como resolver o problema e que, a julgar pelos debates no Congresso Nacional, para os parlamentares parece algo abstrato e sem importância.
Mas os efeitos dessa situação de incertezas que afastam investidores e, no exterior, começa a ser avaliada de forma absolutamente crítica, com danos severos à imagem do país e, no mundo real, aos negócios, estão bem próximos conforme nos deu notícias esta semana o jornal “Estado de Minas”.
Uma notícia e, antes, um exemplo do ponto a que chegamos. Estamos falando da postergação nas obras de duplicação da BR-381, ligação entre Belo Horizonte e Governador Valadares, que se arrastam há mais de vinte anos e mais uma vez podem parar, depois do anúncio de um corte de R$ 60 milhões no orçamento para este ano.
Foram insuficientes R$ 230 milhões em 2018 e serão R$ 169 milhões este ano. Para concluir as obras seriam necessários, estima-se, pelo menos R$ 450 bilhões, o que significa dizer que não dá para fazer qualquer tipo de previsão.
Entre os anos de 2014 e 2018 foram entregues exatos 3 quilômetros da BR-381 duplicados, o que significa dizer também que obras concluídas, como túneis e viadutos, fatalmente entrarão em processo de deterioração, transformando atraso em prejuízo.
Nada a estranhar, tendo em conta que o Estado, gordo e pesado, consome seus recursos alimentando privilégios de seus altos escalões, transforma a ilusão da estabilidade numa corrida desenfreada aos concursos públicos e acaba sem dinheiro para investir.
Pior ainda, agora até mesmo sem recursos para a manutenção de um patrimônio – equipamentos públicos em geral, de estradas a hospitais e escolas – que vai se deteriorando de forma alarmante.
Pior de tudo, diante do exposto, é a absoluta falta de propostas, de projetos que possam sugerir um rumo e, em algum ponto do futuro, as soluções reclamadas, enquanto os agentes públicos parecem se ocupar exclusivamente de assuntos que parecem – e são – até bizarros.
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