Opinião

EDITORIAL | Uma ameaça a ser detida

EDITORIAL | Uma ameaça a ser detida
Crédito: Arquivo DC

A internet, de início imaginada para ser uma rede de comunicação fechada e de uso militar, transformou-se em poucos anos, no eixo de transformações que até então existiam apenas no terreno da ficção. Um avanço tecnológico formidável, destinado por suposto a aproximar pessoas e a facilitar seu acesso à informação e conhecimento. Para o bem, o que necessariamente não está acontecendo, numa espécie de terra sem dono onde cabe tudo e pouca coisa presta, afetando e mudando, sempre para pior, o comportamento coletivo.

Um potencial enorme e, infelizmente, como regra, muito mal usado, o que se percebe claramente na política. O que deveria ser uma ferramenta de transmissão de conhecimentos, de informação, faz justamente o contrário, produzindo efeitos nocivos. São fortes, por exemplo, as evidências de que a decisão dos britânicos de deixar a Comunidade Europeia foi fruto menos da vontade da maioria e mais das distorções espalhadas pelas redes sociais. O mesmo se pode afirmar com relação às eleições presidenciais nos Estados Unidos, que terminaram com uma grande surpresa, em alguns países da Europa e mesmo no Brasil.

Sobre o país, chega agora a notícia de que o gerente de políticas públicas e eleições globais do WhatsApp confirmou que nas eleições de 2018 houve envio maciço através de sistemas automatizados, deparados por robôs, e contratados por empresas ou grupos que violaram os termos de uso desses equipamentos, além das próprias leis eleitorais, com uma série de irregularidades, como utilizar CPFs de idosos ou até contratar agências estrangeiras. Cabe lembrar que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) veta o uso de ferramentas de automatização, como softwares de disparos em massa. Além disso, e na maioria dos casos, os gastos decorrentes não foram declarados na forma da lei.

Tudo isso produziu um resultado que não é medido apenas pela influência que possa ter havido nos resultados das eleições, conspurcando seus princípios mais elementares e, vale dizer, contaminando os principais grupos políticos. As redes sociais foram transformadas num instrumento de desagregação, de mentiras e de propagação do ódio, passando de alguma forma até a induzir decisões de gestores públicos, e não necessariamente da melhor forma.

São fatos, conforme acaba de admitir o próprio gestor do WhatsApp e diante deles só cabe indagar o que a Justiça Eleitoral pretende fazer, com agilidade impositiva e contundência proporcional à gravidade da ameaça identificada.

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