Opinião

EDITORIAL | Uma conta elementar

EDITORIAL | Uma conta elementar
Crédito: REUTERS/Adriano Machado

O presidente Jair Bolsonaro, hoje recolhido a um silêncio ensurdecedor, passou os quatro anos de seu mandato trabalhando para a reeleição e, ao mesmo tempo, dizendo e repetindo à exaustão que não confiava nas urnas eletrônicas, segundo ele passíveis de fraude. Nunca apresentou qualquer elemento concreto a respeito, teve o cuidado de não lembrar que estava falando das mesmas urnas e do mesmo sistema que o elegeram, mas sempre deixou suficientemente claro que não aceitaria outro resultado que não a vitória.

Estava armado o cenário e o que aconteceu depois do dia 30 de outubro, nesse sentido, representa o esperado. O derrotado não reconheceu sua condição, saiu de cena, fazendo o que pode para reproduzir aqui o que seu “amigo” Donald Trump fez nos Estados Unidos, apenas adaptando o enredo às condições locais. De imediato, foi o bloqueio das rodovias, em mais de duas centenas de pontos, denotando evidente e complexa coordenação, mas que ainda assim não parou de pé. Nesse meio tempo, não faltavam referências à agitação nos quartéis, cuja intervenção, pelo menos na imaginação de alguns, seria questão de dias.

Foi nesse ponto exatamente que começou a “ocupação” dos quartéis, que minguou, mas persiste colecionando cenas absolutamente patéticas onde houve um pouco de tudo, menos espontaneidade.

Eis o ponto que mais interessa no momento. Quantos seriam e quem são os praticantes dessa militância? Gente pretensiosa e, para os seus padrões, bem ensaiada. Começaram pedindo intervenção militar “com Bolsonaro no poder”, mas deixaram de lado a segunda parte de sua reivindicação. Curioso, no mínimo. Na realidade a confusão não poderia ser maior ou mais absurda. Pedem intervenção militar, inflam o peito para bradar “eu autorizo”, sonham com o fechamento do Supremo Tribunal Federal, mas acrescentam que estão apenas defendendo a democracia e a liberdade.

Para não dizer mais, diante dos absurdos que se repetem, cabe fazer uma conta elementar, antes que alguém venha dizer que “é preciso ouvir o clamor das ruas”. Somando todos que fizeram das portas de alguns quartéis residência temporária, quantos seriam afinal estes “democratas?”. Todos juntos não somam, com certeza, algo como 5% dos eleitores, o que significa dizer que por certo absolutamente não expressam ou representam sentimentos e desejos da maioria dos brasileiros. São apenas barulhentos, inconvenientes e nada mais.

Portanto, que se recolham, que deixem de ser pretensiosos, ou, antes, massa de manobra muito mal utilizada, entendendo finalmente que não há como tomar a parte pelo todo.

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