EDITORIAL | Uma conta sem sentido

Não faz muito tempo a Petrobras era dada como muito próxima de um fim melancólico, resultado da má gestão, investimentos sem retorno ou superfaturados, além de submetida a um saque sistemático e de proporções talvez sem paralelo no planeta. Se metade do que foi dito corresponde à verdade, pode-se afirmar que a estatal tem sete vidas, ao contrário do que imagina o ministro da Economia. Paulo Guedes disse recentemente que a empresa não tem futuro e que em muito pouco tempo não valerá nada. Talvez uma “escada”, como é dito no teatro, para o presidente da República voltar ao tema da privatização, dizendo que a empresa é parte de seus pesadelos recorrentes.
Tudo isso, na perspectiva de Bolsonaro, por conta da política de preços da estatal, que muito colaborou para ressuscitar dois fantasmas. O da inflação e o dos caminhoneiros, que volta e meia ameaçam “parar o País” porque os preços do óleo diesel inviabilizam seu trabalho. Com uma capacidade de surpreender que não tem limites, o presidente voltou a carga mais recentemente, agora para lembrar que a empresa tem um objetivo maior que simplesmente o de produzir lucros. Nesse ponto não há como negar razão a Bolsonaro, mesmo que não se possa compreender, conhecendo seu gênio, como e porque ele engula o presidente da Petrobras afirmando que a política de preços não será alterada.
Poderia, como quer o presidente, pelo menos ser um pouco menos gulosa. E não se pode chegar a outra conclusão diante da informação de que o lucro líquido da estatal chegou aos R$ 31,1 bilhões no terceiro trimestre do ano, enquanto a Vale, maior mineradora de ferro no planeta, ficou perto dos R$ 20 bilhões no mesmo período. Lembrou também que, como estatal, a Petrobras não deveria perder seu viés social, no que toca ao atendimento aos interesses da população, deixando de ter como foco único a satisfação dos acionistas que operam na Bolsa de Nova Iorque.
Eis a questão crucial, lembrada neste espaço, seja a propósito da política de preços praticada desde o governo passado, com um alinhamento aos preços internacionais que representa a negação de todos os esforços do País para chegar à autossuficiência em petróleo, seja quando defendem a privatização, como se fosse sequer possível imaginar que as multinacionais do setor seriam mais sensíveis aos “interesses da população”, e do Brasil, como disse o presidente da República.
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