Opinião

EDITORIAL | Uma faca sem corte

EDITORIAL | Uma faca sem corte
Crédito: Pexels

Alguém já disse que no Brasil o sucesso parece não ser tolerado, algo que nos vem à lembrança a propósito da campanha que já não é de difamação e hoje mais apropriadamente pode ser apontada como de demonização. E o alvo é o chamado Sistema S, concebido, posto de pé e custeado pelo setor privado e responsável, dentre outras atividades, por um dos maiores e mais bem-sucedidos programas de ensino técnico no mundo, com a formação de milhões de brasileiros ao longo de décadas. Operado à base de contribuição compulsória de empresas, o Sistema movimenta um gigantesco orçamento, cobiçado na mesma proporção de seu tamanho.

Existem erros a serem corrigidos, muito provavelmente delitos a serem apurados e punidos. É a exceção, nunca a regra, menos ainda ingrediente para tentativas de confundir, com a afirmação, por exemplo, de que se trata de dinheiro público, mal usado ou apropriado por mãos inescrupulosas. Tudo isso, evidentemente, para fazer crescer o olho gordo da própria administração pública, que já arranca seus nacos mas quer sempre mais. Ou, como chegou a dizer o ministro da Economia, Paulo Guedes, que “passaria a faca” no Sistema S. Como apontado algumas linhas acima, o sucesso é quase sempre malvisto e se não alimenta inveja, alimenta cobiça indisfarçada. Tudo isso, na terra das contradições, no justo momento em que, sendo mais evidentes os sinais da crescente precarização do sistema de ensino no País, surge o entendimento de que a tão sonhada e desejada recuperação da economia, com consequente ampliação da oferta de empregos, poderia gerar um novo gargalo de mão de obra treinada.

Temos quem possa cumprir esta tarefa, dispondo de expertise e condições para uma rápida mobilização.

Falamos do óbvio, falamos do Sistema S, mas não é exatamente o que se está pensando em Brasília, onde o secretário de Política Econômica do Ministério da Economia, depois de cometer a heresia de dizer que está na hora do Sistema S ajudar na inclusão de jovens carentes no mercado de trabalho, propõe “passar a faca” em mais R$ 6 bilhões exatamente para treinar jovens. Como assim, se isto é exatamente o que fazem, com sucesso e há muito tempo, Sesi, Senai e demais integrantes do Sistema? O senhor Adolfo Sachsida, autor da ideia, apenas demonstra que não tem a menor ideia do que fala, tendo perdido boa chance de ficar calado. Tempo que poderia ter se dedicado a, pelo menos, procurar saber o que faz, afinal, o Sistema S.

Rádio Itatiaia

Ouça a rádio de Minas