Opinião

EDITORIAL | Uma foto e nada mais

EDITORIAL | Uma foto e nada mais
Crédito: Freepik

Uma foto em que os presidentes Joe Biden, dos Estados Unidos, e Jair Bolsonaro, do Brasil, parecem nada confortáveis parece ter sido o resultado mais concreto do encontro bilateral realizado na semana passada em Washington. Não era de se esperar que pudesse ser diferente. Biden, nos seus esforços de se apresentar como líder mundial, convocou a Cúpula das Américas, mas para um encontro bem moldado a seus interesses, em que só houve espaço para convidados alinhados, o presidente do México não compareceu e por pouco o próprio Bolsonaro estaria ausente. Só foi depois de forçar o encontro pessoal, à margem da Cúpula, certamente imaginando que o momento poderia render fotos úteis à sua campanha presidencial, ajudando a ideia de que está entre os líderes mundiais que contam.

Essa perspectiva parece ainda mais concreta quando se observa que, ignorando por completo o rígido compromisso próprio dessas ocasiões, o visitante brasileiro falou do óbvio, dizendo que espera para outubro eleições “limpas e confiáveis”, como se fosse possível dizer outra coisa, mas acrescentando o desgastado e desacreditado “auditáveis”, condição que se aplica ao sistema brasileiro, mas por ele transformada em espécie de mote sabe-se lá exatamente para que.

E Biden, que pode ser apontado como santo se comparado a seu antecessor, mas até agora não foi muito além disso, foi um anfitrião simpático e até cordial, definindo o Brasil como “um país maravilhoso, com um povo magnífico”, além de dono de “instituições fortes” que certamente poderão ser percebidas na próxima eleição presidencial. Faltou saber se foi um recado ou, de fato, simples constatação. Para além do balé próprio dessas ocasiões, das quais como regra só se estrai condições para conversas mais pragmáticas, sobraram referências à Amazônia, em que surpreendentemente o anfitrião disse que o planeta deveria ajudar a custear os trabalhos de preservação, que definiu como “uma responsabilidade muito grande”, posição com a qual Bolsonaro disse estar alinhado, embora acrescentando que o Brasil teme a cobiça externa sobre a região.

Para concluir, não é de se esperar que o encontro entre os dois presidentes, como a Cúpula, renda mais que fotos a serem usadas conforme a conveniência de cada um dos retratados. Para Bolsonaro, que ainda insiste que seu amigo Trump foi passado para trás na eleição local, uma forma de chamar para si os holofotes da imprensa mundial. Para Biden, quando muito, resposta aos que dizem que seu governo dá pouca ou nenhuma importância aos países do continente.

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