EDITORIAL | Uma frente por atacar

Cabe muita atenção, cabe vigilância e cabe muito rigor. A semana termina, depois de acontecimentos cuja gravidade não tem paralelo desde a redemocratização, sem que o repugnante repertório de mentiras deixe de circular. Como de costume, nessas circunstâncias autores querem, acintosamente, covardemente, se passar por vítimas. Covardes e sem qualquer espécie de pudor, dizem que os vândalos de domingo passado eram na realidade petistas infiltrados. Como de costume, e deixando claro que para eles a única medida é a conveniência, agora os que foram apanhados em flagrante chamam de “campo de concentração” o ginásio esportivo em que foram recolhidos, anunciam mortes no local – seriam três –, com o requinte de sustentar que os corpos estariam recolhidos até que as respectivas famílias concordem em abafar o caso. Cuidadosos, chegaram a exibir fotos de uma senhora idosa que seria uma das vítimas, mas como mentira tem pernas curtas foi fácil verificar que se tratava de uma senhora falecida em meados do ano, bem longe de Brasília.
O mais trágico é que do lado de fora ainda tem quem acredite, teimosamente queira acreditar, em tanta insanidade. Os mesmos, provavelmente, que em outro momento proclamavam que os petistas, se vitoriosos, fariam uma conta rápida, verificariam quantas pessoas determinada residência poderia abrigar e, havendo vagas, as ocupariam, independentemente da vontade do proprietário. Método radical, ainda que em tese eficiente, de acabar com os sem-teto. Acima apenas alguns exemplos, muito poucos entre o que vêm circulando, com assinaturas de gente que trata a verdade como lixo e, quando apanhada, reclama seu direito de liberdade de expressão, aponta a ditadura patrocinada pelos tribunais superiores ou se diz indignado com a censura. “Democratas” tão ensandecidos que entendem ser possível associar liberdade a um golpe militar.
Não imaginamos possível, diante do exposto, impor o bom senso apenas pela razão. Está provado e comprovado que a internet, e toda a parafernália a ela associada, direcionada para a comunicação, absolutamente não pode continuar sendo terra de ninguém. O que vem acontecendo, é sabido, implica riscos que são globais, e devem ser contidos, nunca protegidos por mais uma mentira, a de que agir, na verdade higienizar, seria um ato de força, quando é exatamente o contrário. Aliás, o suficiente para que se possa afirmar que se medidas profiláticas tivessem sido adotadas antes, Brasília, o Brasil inteiro, não teriam sido agredidos e feridos, por uma minoria insignificante, como aconteceu no domingo da vergonha.
Ouça a rádio de Minas