EDITORIAL | Uma guerra sem resposta

De longa data existe no Brasil um estado paralelo – ou seriam estados? –, de vida própria e autônoma, controlado pelo crime organizado e onde as instituições legitimadas não têm espaço algum. A respeito, não há o que apontar como novidade, lembrando que ao visitar o País em 1980 o então Papa João Paulo II só pôde conhecer uma favela no Rio de Janeiro depois de autorizado pelo poder local, evidentemente associado à criminalidade. Foi justamente a leniência, não raro mesclada com algum tipo de conivência, ao longo de tão longo tempo que nos fez chegar à situação atual, em que as mais recentes exibições de poder se confundem explicitamente com terror, numa guerra que já não tem disfarces.
Estamos falando dos acontecimentos no Nordeste, mais precisamente no Rio Grande do Norte, onde a disputa entre facções rivais e mais a resposta a tentativas de impor disciplina nos estabelecimentos prisionais motivou ataques generalizados. Mais de uma semana de guerra aberta, de intimidação, em que os alvos foram aleatórios, não poupando a população, comércio e mesmo instituições públicas, inclusive policiais. Para culminar, com a destruição de estoques de medicamentos destinados à rede pública em Natal. Continua espantando, face à escalada e à gravidade da situação, que as reações tenham sido pouco mais que burocráticas, o que de pronto escancara seu pouco efeito.
O Estado brasileiro, também nesse aspecto, parece ter adormecido, inerte para enfrentar e resolver questão que em muito já ultrapassou os limites da normalidade ou do tolerável. Uma guerra que só pode ser enfrentada com resposta também de guerra, única maneira de fazer com que a lei e a ordem se imponham com a brevidade necessária. Há que acordar, há que perceber também o significado de uma nova frente de combate aberta pelo crime organizado, já capaz de ousar e atacar diretamente representantes do Judiciário, como promotores e juízes em diversas partes do País. Ou até mesmo o ex-ministro da Justiça Sergio Moro, em cuja gestão foram tomadas medidas, como transferências de presos de alta periculosidade, para penitenciárias de segurança máxima, conforme acaba de revelar a Polícia Federal.
Tudo isso coloca o Brasil muito próximo da Itália da máfia, do México dos cartéis ferozes ou da Colômbia nos momentos de mais força do narcotráfico. Por óbvio, não dá para continuar esperando, ou alimentar a ideia de que as diferenças socioeconômicas são as verdadeiras explicações para o que se passa presentemente. Definitivamente não e só cabe reconhecer o estado de guerra com todas suas consequências.
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