Opinião

EDITORIAL | Uma pauta abandonada

EDITORIAL | Uma pauta abandonada
Crédito: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Vem de Brasília a informação de que o novo governo está encontrando dificuldades para completar o segundo escalão de sua equipe, em que pelo menos cinco centenas de posições estratégicas permanecem abertas. Fontes do próprio governo admitem que a situação em alguns casos compromete a gestão pública, numa paralisação que aos poucos vai se tornando indisfarçável. No essencial, tudo se deve à cobiça pelos cargos abertos, numa corrida em que se confundem o próprio partido do governo e muitos de seus aliados de ocasião. Infelizmente, nada que não fosse esperado ou represente novidades, tudo isso a um custo que não é bom para o presidente Lula, para seu partido e menos ainda para o conjunto da população brasileira.

Estamos falando do que de pior existe no espaço político brasileiro, um processo de conchavos e barganhas que engorda e emperra a máquina pública, tornando o chefe do Governo refém das alianças que constrói, não por ideais, de parte a parte, e sim pela necessidade de construção de uma base minimamente estável, pressuposto da própria governabilidade. Tudo isso a um custo – e não apenas financeiro – que há muito se tornou insuportável, ainda que se tente vender a ideia de que seriam movimentos próprios da construção política e do convívio democrático. Certamente que não. São na realidade deformações que deveriam ter sido extirpadas faz tempo.

Esta primeira conclusão, inescapável para qualquer observador minimamente sensato, remete a uma outra que é a urgência de uma reforma política que devolva integridade ao sistema de representação popular, consequentemente à própria democracia. Assunto, portanto, de crucial importância na medida em que explica a maior parte de nossos males, mas que caiu no esquecimento, depois de alguns remendos que na prática nada significaram. Negar esse fato é o mesmo que aceitar como pertinentes as injunções que só produziram males, ao mesmo tempo em que nutriram as ambições de políticos que além delas não tem nenhum projeto para seu país.

Discutir o futuro, discutir o propósito de promover a conciliação nacional, abrindo assim espaços para a realização da construção que continua sendo postergada, passa, portanto, necessariamente pela reabertura dessa pauta e em caráter de extrema urgência já que seria o verdadeiro ponto de partida para tudo o mais que se pretenda fazer bem feito. Fica a observação que antes de tudo traduz indignação diante da repetição de erros que não têm cabimento, ao mesmo tempo um convite explícito à reflexão por parte de todos aqueles que têm alguma responsabilidade na condução do País.

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