EDITORIAL | Uma receita de alto risco

Com o caixa esvaziado e, para piorar, ainda naquela difícil situação em que o cano de entrada é de calibre menor que o de saída, em Brasília ainda tem quem sonhe com uma saída fácil para o desequilíbrio fiscal, bastante agravado no ano corrente.
Há quem continue acreditando, nos seus melhores sonhos, que a saída só pode ser a de sempre, via aumento de impostos e não por acaso nesses dias voltaram a surgir versões de que a antiga CPMF poderá ser reinventada, evidentemente rebatizada como se fosse o bastante para evitar reações desagradáveis.
Aumenta também, sinal evidente de que as contas realmente preocupam, referências mais animadas ao programa de privatização, agora com a Petrobras e suas subsidiárias voltando à condição de bola da vez.
O ministro Guedes, que andava desaparecido e silencioso, não esconde suas intenções e preferências. Acreditando que tudo que possa ser vendido, privatizado melhor dizendo, deva ter este destino.
Aí incluídos os bancos públicos, tema delicado mesmo na perspectiva do atual governo, e novamente a Petrobras e suas subsidiárias, agora com uma ideia que parece pintada de cor de rosa.
Nada de uma grande liquidação, como chegou a ser dito, mas sim uma manobra tática inteligente, tal como estaria sendo feito por algumas das grandes petrolíferas. Simples. Concentrar atenção e recursos nas atividades mais rentáveis, deixando de lado as complementares, como refino, distribuição e varejo.
No caso brasileiro, pelo menos tal como a nova fórmula é apresentada, algo que significaria concentrar atenções no pré-sal, onde estaria o verdadeiro pote de ouro.
Como alguém poderia lembrar oportunamente, falta combinar com o outro lado, tendo em conta as incertezas geradas pela pandemia e seus reflexos na economia, situação que leva investidores a guardarem bem guardadas as suas carteiras.
Persistem também incertezas relevantes e meramente comerciais com relação ao petróleo e seu futuro, como consequência das pressões ambientais e do surgimento de novas tecnologias, como o carro elétrico que a estas alturas pode ser apontado, sem riscos de exagero, como o futuro da mobilidade individual.
Dito com outras palavras, pode ser, tudo indica que será, hora ruim para vender, a menos que exista disposição, de fato, de se promover uma grande liquidação, abandonando-se um sistema integrado, que começa na prospecção e termina na entrega ao consumidor final, o que, mesmo com mudanças drásticas no perfil do consumo do petróleo, continua sendo estratégico e tem muito a ver com segurança interna.
E nada a ver com a ideia insensata e irresponsável de que pode ser interessante aproveitar a pandemia e deixar as porteiras abertas para a boiada passar.
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