Opinião

EDITORIAL | Uma reforma fora de hora

EDITORIAL | Uma reforma fora de hora
Crédito: Marcello Casal Jr./Agência Brasil

Em passado recente e de triste memória os brasileiros estiveram muito próximo do colapso de suas instituições públicas, atacadas sistematicamente e sem qualquer limite por uma conjugação de fatores que são de todo conhecidos. Foi por pouco, muito pouco, que o pior não aconteceu e há que saber reconhecer que neste processo de contenção o Judiciário, mais especificamente o Supremo Tribunal Federal (STF) exerceu, dentre todos, o papel mais fundamental. E não por outro motivo virou o alvo preferencial de quem promoveu e de quem acolheu os desmandos cometidos, afinal desnudados com a fuga do hoje ex-presidente Jair Bolsonaro para os Estados Unidos, de onde ainda há pouco, na escalada de mentiras que parece não ter fim, sustentou, com o mais completo despudor, que os acontecimentos de 8 de janeiro tiveram  patrocínio da oposição.

Bolsonaro, assim como as joias sauditas que pretendeu embolsar, o que parece não ter bastado para conter seguidores que continuam afirmando que em seu governo não existiu corrupção, a cada novo dia mais se revela aquele tipo que não conhece limites. E mesmo enfraquecido ainda encontra quem o defenda ou em seu nome busquem ocupar espaços políticos, na esperança de seu retorno ou da apropriação de seu espólio político. Caso dos movimentos agora revelados, buscando desenterrar um velho assunto, dele se apropriando com objetivos nada legítimos. Estamos falando de uma suposta proposta, que o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, teria prometido a deputados bolsonaristas encaminhar ainda no corrente ano e que imporia mandatos a membros dos tribunais superiores, num pacote em que o STF estaria incluído. Uma discussão aceitável, pertinente, fossem outras as circunstâncias. Agora, definitivamente não, no entendimento de que qualquer mudança que venha a ser feita deva ser precedida de muita cautela, não cabendo a hipótese de que sequer possa ser associada ao bolsonarismo.

De fato, qualquer movimento agora embutiria o risco de manipulação, de mera tentativa de resposta e vingança aos supostos desmandos encarnados na figura do ministro Alexandre de Moraes. E da mesma forma que nas tensões que foram a marca das relações entre os três poderes no governo passado, prejudicando, portanto, qualquer movimento isento e de aperfeiçoamento das instituições.

Do que aconteceu, é evidente, ficaram cicatrizes e não se pode deixar que o contexto, ainda contaminado pelos conflitos recentes, não recomenda atitudes que dificilmente teriam as marcas da isenção, não parecendo exagerado afirmar que poderiam ser também o equivalente à imposição de um terceiro turno. Resumindo, a única atitude aceitável é esperar que a temperatura baixe.

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