Opinião

EDITORIAL | Uma rua sem saída

EDITORIAL | Uma rua sem saída
Crédito: REUTERS/Rodolfo Buhrer

Já dissemos neste espaço que a atual geração de militares não tem por que carregar pecados e culpas daqueles que, em 1964 e pelas duas décadas seguintes, desviaram o Brasil de seus caminhos, fazendo-o mergulhar numa longa e triste ditadura. Não tem culpa e igualmente não tem por que se comportarem como se fossem parte de acontecimentos pretéritos sobre os quais só cabe repulsa. Deles se espera somente que tenham aprendido a lição e dessa forma não mais se desviem de suas obrigações, e não podem ser acusados por erros que não cometeram.

A pacificação que o País tanto reclama supõe este entendimento, da mesma forma que não deveria existir espaço para aproveitadores que tentam dar ao movimento um sentido que ele não teve. Houve sim um golpe, de um lado estimulado por interesses externos, de outro assumido por políticos sem votos, que fracassaram na tentativa de usar os militares como escada. Evidentemente que a recuperação do fio da meada da história nos coloca no presente e em situação que guarda pontos comuns, por sinal muito mal disfarçado por seus autores.

É nesse contexto que devem ser entendidas as seguidas manifestações contra o sistema de votação no País, reconhecidamente um dos mais avançados de todo o mundo, do qual se diz o contrário, deslegitimando, antecipadamente, o resultado que as urnas vierem a apontar. Triste, muito triste, que alguns militares, ainda que uma maioria de reformados, se envolva nessa aventura, reclamando para as Forças Armadas um papel que não faz parte de suas atribuições.  É preciso reagir, é preciso recolocar as coisas nos seus devidos termos, até porque, agora, mais que num passado recente, estes movimentos são o equivalente ao percurso numa rua sem saída.

Os sempre alegados riscos de fraude ou manipulação ou as ilações de que isto pode ter acontecido no passado já foram cabal e suficientemente desmontados e, se existe descrédito, absolutamente não é do lado que defende os mecanismos em uso. Tudo isso sem que seja preciso acrescentar, como definitivo ponto final, que faltando menos de dois meses para a votação, absolutamente não existe tempo hábil para que, se fosse o caso, sejam feitas as mudanças reclamadas. Constatação sobre a qual não cabem sofismas e, de tão elementar, deveria ser bastante para calar os que ainda teimam em dizer o contrário.

Querem apenas provocar, querem desde já construírem pretexto para justificar um resultado indesejado ou nos seus cálculos estaria incluída a possibilidade de adiamento da votação, com consequente prorrogação de mandatos, ou pura e simplesmente anulação? De qualquer forma uma aventura que as instituições, militares inclusive, não endossarão.  

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