Opinião

EDITORIAL | Vacina para as mentiras

EDITORIAL | Vacina para as mentiras
Crédito: Freepik

Enquanto as discussões se arrastam, de certa maneira inconclusivas, as ditas fake news que tomaram de assalto as mídias sociais e mais amplamente os meios de comunicação eletrônicos, continuam fazendo avanços no mundo inteiro. E não apenas restritas aos domínios da política, seu território predileto.

Na realidade, atira-se em todas as direções, em busca de um estranho prazer que estudiosos da mente humana ainda não foram capazes de decifrar. Em plena pandemia provocada pelo coronavírus as vacinas se transformaram em novo alvo, ameaçando o trabalho e os esforços de estudiosos e cientistas espalhados pelo mundo, desacreditando-os.

Enquanto nos Estados Unidos o número de mortos já passou de 150 mil e no Brasil chega aos 100 mil, ainda tem gente que não se comove ou, até pior, busca tirar partido dessa tragédia. Aconteceu em São Paulo, e dali se alastrou mundo afora, nestes dias. O governo local, trabalhando em parceria com pesquisadores chineses, fez os primeiros destes com uma vacina e a primeira a recebê-la foi uma médica.

Ocasião solene, de esperança, registrada em vídeo, que logo em seguida, editado e adulterado, caiu na rede, espalhando a mentira de que a cena seria falsa, que a suposta vacina não teria sido aplicada.

O assunto, todos sabemos, é bastante fértil para explorações descabidas e para nós brasileiros é suficiente lembrar a revolta de que foi alvo o cientista Oswaldo Cruz, na sua campanha pela vacinação contra a febre amarela. Ainda assim assusta, e muito, quando verificamos que pouca coisa mudou, porém com os riscos multiplicados pelo poder da comunicação eletrônica. Que no caso também alimenta falácias como vêm ocorrendo nos Estados Unidos, onde afirma-se que a vacinação compulsória atenta contra as liberdades individuais.

Não, definitivamente não, e simplesmente porque deter a pandemia significa proteção para todos. Ao mesmo tempo nos exibe, como se ainda fosse necessário, a urgência de conter a banalização da mentira que absolutamente não pode ser confundida com o mero exercício da liberdade de expressão ou algo equivalente à censura.

Trata-se, e o mais rapidamente possível, de pôr fim a abusos que ameaçam a democracia e as boas práticas políticas, que transformam tecnologias que deveriam agregar e promover o bem coletivo, em propagadores do ódio, numa insana deturpação de valores, muitíssimo bem ilustrada nos ataques à vacina e, mesmo antes, em tudo que foi dito de errado sobre a pandemia, buscando doentiamente tirar algum partido da situação.

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