EDITORIAL | Vazio que se eterniza

A redemocratização, nos anos 80 do século passado, se deu num processo de acomodação, de um lado por conta do desgaste do regime, de outro pelo crescimento da insatisfação e das dificuldades no campo econômico. Foi um recuo tático, por esgotamento, e um avanço consentido, estratégia para evitar os custos de um desgaste pelo qual ninguém estava disposto a pagar. Uma saída bem à brasileira e possivelmente a melhor, desde que os passos seguintes, que poderiam ser definidos como uma reordenação geral, tivessem sido dados.
Assim se imaginou e assim foi apresentada a transição que culminaria com a Constituinte e o desenho de um futuro melhor, livre das mazelas que, passados 37 anos, só não se pode afirmar que são as mesmas porque são mais graves.
Como a discussão a respeito seria ampla, impossível de ser abrigada neste espaço, fizemos nossa atenção num de seus aspectos, a reforma política, então apresentada como o primeiro e grande passo. Ou “a mãe de todas as reformas”, como chegou a afirmar um político hoje no ostracismo.
Entendia-se como definitiva a necessidade de mudanças no sistema partidário e eleitoral, assim como em algumas das regras condicionantes do funcionamento do sistema. Todos se diziam a favor, mas, por óbvio, a reforma nunca aconteceu, com as mudanças limitadas, na verdade, a ajustes de conveniência.
O que se passa presentemente no Brasil é, antes de tudo, o resultado da postergação daquilo que todos sabiam ser imprescindível, como drástica mudança no sistema partidário, onde não haveria mais espaço para as então chamadas siglas de aluguel destinadas a viabilizar os arranjos que em muitos casos deveriam produzir apenas vergonha, quando não cadeia. São considerações que nos levam ao presente e que a realidade confirma.
Dados recentemente divulgados dão conta que, até o final do prazo, a tal “janela” que terminou na última sexta-feira, 102 dos 513 deputados federais, ou aproximadamente 20% do total, trocaram de partido.
Para o bom entendedor certamente não precisa mais que esta informação para que se entenda que este bailado é movido exclusivamente pela conveniência, sem ter nada, absolutamente nada, que os aproxime de questões programáticas ou ideológicas. Não seriam nem mesmo, no seu sentido mais restrito e com pouquíssimo espaço para as exceções que existem, movimentos impulsionados por valores que não são discutidos.
Neste ambiente há muito pouco a esperar, para acreditar que as pessoas verdadeiramente preocupadas em buscar soluções para o Brasil, encontrem espaço para trabalhar e cumprir a grande tarefa que está nas mãos de todos nós.
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