EDITORIAL | Ver além da emergência

O governador Romeu Zema, que tem feito malabarismos para administrar o déficit das contas estaduais, está otimista, confiante de que as negociações para antecipação do pagamento dos royalties chegarão a bom termo, podendo render R$ 5 bilhões. O governador e seus auxiliares diretamente envolvidos com as negociações lembram que a oferta a ser feita tem grande liquidez e, vencida a fase burocrática em que se empenham atualmente, o dinheiro chegará a tempo para que, pela primeira vez depois de três anos, o décimo terceiro do funcionalismo seja pago pontualmente.
Um presente de Natal para todos os personagens dessa já longa história e uma vitória para o governador, que, com os recursos esperados, terá condições de garantir normalidade nos pagamentos mensais pelo menos até meados do ano. Um alívio importante, algo a ser comemorado, mas que também precisa ser percebido numa perspectiva mais realista, uma vez que todo o esforço despendido até agora pode até apagar o incêndio, mas não garante, mantidas as condições, que as chamas retornem em pouco tempo.
Na perspectiva do Palácio da Liberdade, resultados mais duradouros virão com a aprovação do projeto de recuperação fiscal, ainda em exame no Legislativo, que possibilitará renegociação das dívidas do Estado com a União, com prazo de carência, mas à custa de um ajuste que tem pontos obscuros, como as privatizações da Cemig e da Copasa, assunto visto com muitas reservas e duvidosas chances de aprovação na Assembleia Legislativa.
Assim, e independentemente do que cada um possa pensar a respeito, inclusive o governador que defende com entusiasmo as privatizações, seria pelo menos prudente enxergar a questão sob outra perspectiva. Hoje, segundo os números mais recentes, o Estado gasta 107% do que arrecada e somente a conta de funcionários ativos e inativos já representa mais de 80% dos gastos totais. São informações, são números reais, que apontam, ou deveriam estar apontando, direto para o alvo. Está claro, claríssimo, que não há como sustentar essa situação, mesmo que arranjos de emergência sejam completados.
Tem que estar claro, para o governador, para os deputados e para todos os mineiros que, pura e simplesmente, não há como sustentar essa situação por prazo indefinido, uma escolha em que, no final das contas, todos sairão perdendo.
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