Opinião

EDITORIAL | Verdade a ser contada

EDITORIAL | Verdade a ser contada
Crédito: Adobe Stock

Diante de uma guerra, tomada no seu sentido estrito, a primeira tarefa dos estrategistas é desconstruir o inimigo, deles retirando, inclusive, quando possível, os elementares atributos que diferenciam o homem dos demais animais. Tem sido assim ao longo dos tempos, levando alguém a afirmar – e existem controvérsias a respeito do autor, variando de um general na Grécia Antiga a outro na Guerra de Secessão – que “numa guerra a primeira vítima é a verdade”. A expressão foi tomada de empréstimo por um jornalista australiano que a utilizou como título para um excelente livro sobre a cobertura das guerras mais recentes, começando a Crimeia e concluindo com o Vietnã, mostrando em síntese como a verdade é manipulada, conforme o momento e o interesse de cada parte. Algo para lembrar também o nazista Goebbels, o ministro da propaganda do reich, concebido para durar mil anos e felizmente passou longe disso e para quem bastaria repetir uma mentira mil vezes para que ele se transformasse em verdade.

Não há como deixar de perceber que o mesmo princípio ou critério pode ser aplicado a situações bem atuais, eleições em países que se entendem e  se apresentam como democratas. Uma percepção mais recente, próxima do momento em que o candidato John Kennedy, nos Estados Unidos, como uma espécie de precursor do marketing político percebeu que propaganda poderia ser bem mais eficiente que o debate de ideais, ajudando também a “inventar” os debates em redes de televisão. Reforça a ideia das mudanças que estamos tentando pontuar também o surgimento das pesquisas de opinião, dando aos candidatos a chance de se apresentarem exatamente como supostamente desejariam os eleitores.

Nada a ver com as pesquisas de intenção de votos, adoradas por quem está na frente, odiadas e negadas por todos os demais candidatos. Apontamos aqui pesquisas, de consumo exclusivo, interno, de partidos e seus líderes, através das quais buscam conhecer e antecipar desejos e inclinações de eleitores para então afinarem seus discursos, devidamente sintonizados com as conveniências. São interferências que se transformaram em regra pelo menos para os países que abraçam e defendem aquilo que poderíamos rotular como conceito ocidental de democracia. Algo que produziu fenômenos um tanto bizarros em países como Estados Unidos, Itália, Hungria, passou pelo Brasil e tocou até mesmo a dita vetusta Grã-Bretanha, com possíveis influências também na Ucrânia.

Contar essa versão por inteiro é tarefa pertinente e bem poderia ser iniciada pedindo emprestada ao jornalista Phillip Knightley o título de seu livro, lançado em 1975.

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