Opinião

EDITORIAL | Verdade elementar

EDITORIAL | Verdade elementar
Sede do Banco Central | Crédito: Adriano Machado/Reuters

O governo federal trabalha com a perspectiva, aparentemente um tanto otimista, de que o déficit das contas públicas será zerado no próximo exercício, devendo apresentar resultado positivo em 2025. Para alcançar seu objetivo e conforme já foi amplamente noticiado, o governo trabalha com o aumento de receitas sem que seja necessário elevar a carga tributária que ronda a capacidade contributiva e representa um dos entraves à retomada de investimentos e do crescimento econômico. Uma equação, para muitos, difícil de ser fechada a contento, principalmente se a estratégia não inclui, com o peso necessário, a redução de despesas.

Sobre este ponto, vale registrar comentários surgidos durante recente debate dos ministro Fernando Haddad, da Fazenda, e Simone Tebet, do Planejamento, juntamente com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, no Senado, sobre o tema “Juros, Inflação e Crescimento”. Chamou a atenção nesse encontro fala do senador Cleitinho Azevedo (Republicanos-MG) sobre gastos públicos. Segundo ele, “o que mais a gente viu nesse país foi gastar mais do que arrecada. Está na hora de realmente fazer o limite de gastos, mas para quem realmente tem que diminuir estes gastos. Quem gera riqueza é o trabalhador, é o empresário. Quem gera despesas somos nós, os três poderes”. A pronta resposta do ministro Haddad foi no mesmo tom: “Seu discurso foi música para os meus ouvidos. Pela primeira vez em muito tempo, eu vejo um senador com a sua coragem colocar o dedo em uma ferida tão expressiva da sociedade brasileira e que comove tanto a população de baixa renda, que ficou sete anos sem aumento do salário-mínimo”.

Em primeiro lugar, este diálogo nos mostra que ainda existe vida inteligente no Parlamento brasileiro, o que deve ser visto com satisfação e redobrada esperança. Afinal, não é pouca coisa, considerados precedentes bem conhecidos, que representantes de blocos políticos antagonistas demonstrem e explicitem convergência em tema tão sensível, recolocando a questão da redução de despesas em melhores termos. Cabe esperar, agora, que não tenha sido apenas retórica e, sim, um primeiro movimento na direção desejável. Porque cortar despesas deveria significar exatamente olhar onde estão as “gorduras”, sem medo de atacar os privilégios daqueles que de longa data sequestraram o Estado brasileiro.

Estamos falando da elite, dos esquecidos marajás dos três poderes. Estamos falando também do dinheiro público que, não tendo dono, acaba servindo interesses que não são coletivos, engordam o Estado e ajudam a esvaziar os cofres públicos.

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