Editorial

A cara do fantasma

Taxa de juros atual asfixia as empresas, empobrece as famílias, compromete os empregos e perpetua a desigualdade
A cara do fantasma
Quantas economias, mesmo com inflação incômoda e quadro fiscal delicado impõem a seus cidadãos uma taxa real de juros de 10%? | Foto: Bruno Domingos/Reuters

Os juros no Brasil são uma barreira intransponível ao desenvolvimento. A taxa atual asfixia as empresas, empobrece as famílias, compromete os empregos e perpetua a desigualdade. Tudo isso em nome do rentismo. Afinal, nada mudou com a nova direção do Banco Central. Não existe crescimento sustentável com juros estratosféricos. Não há espaço para inovação, reindustrialização e crédito acessível. O que se vê é a paralisia dos investimentos produtivos, com sequelas para toda a sociedade.

Por que correr riscos investindo em produção quando é possível obter, sem esforço, rendimento real de 10% ao ano aplicando no mercado financeiro? Este modelo condena o País a andar de lado – ou de marcha a ré – sob a miopia de uma única e cruel ferramenta de política monetária. Quantas economias, mesmo com inflação incômoda e quadro fiscal delicado impõem a seus cidadãos uma taxa real de juros de 10%?

A pergunta, assim como o arrazoado que a antecede, não é de alguém perfilado com a oposição e sim de um empresário, exatamente o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Ricardo Alban. E expressa, ainda que o tema tenha caído em razoável esquecimento ou conformismo que não deveria parar de pé, sentimentos comuns à maioria de seus pares. Gente que não entende a lógica de políticas que, se de fato adequadas, já deveriam ter produzido os resultados reclamados, assim apagando de vez o tal fantasma da inflação. Gente que pode até acreditar no remédio ortodoxo, mas também sabe que a diferença entre a cura e o veneno é precisamente a dose.

Para muitos, pode parecer que a orientação seguida pelo Banco Central, tão intensamente defendida pelo mercado, este ser que não tem rosto, mas é dono da lógica do absurdo e dessa forma de um poder que não encontra limites. Apesar dos males e dos sacrifícios que por décadas tem sido impostos ao País.

Como muito oportunamente reclama o presidente da CNI, quebrando o silêncio e passividade que só podem ser classificados como despropositados, é preciso reagir. Para denunciar a falta de lógica da perpetuação de políticas monetárias restritivas, para demonstrar a extensão dos males que têm sido causados ao País, a seus empresários e aos trabalhadores. Afinal e por elementar se o remédio fosse bom, adequado, o paciente estaria curado e o Brasil pronto para reencontrar a rota do crescimento. Não mais a repetição de um mero voo de galinha e sim crescimento sustentado, no rumo do futuro desejável, tudo bem diferente do que imaginam os pregoeiros de uma estabilidade que é também asfixiante.

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