A força da razão
Embora prudência nunca deva ser dissociada das lides diplomáticas, existem, desde o último domingo, razões objetivas para alimentar a crença de que o momento mais delicado nas relações bilaterais entre Brasil e Estados Unidos ficou para trás. As primeiras avaliações sobre o encontro entre os presidentes Lula e Trump apontam nessa direção, fato confirmado pelo chanceler Mauro Vieira ao adiantar que foi cumprido o primeiro momento do processo negociador, com os dois presidentes demonstrando, para além da simpatia mútua, ou “química” como foi dito em Nova York, disposição para o entendimento ou, simplesmente, para que as coisas possam ser recolocadas nos seus devidos lugares. Com eficácia e agilidade.
O presidente Lula, conforme relatado pelo chanceler, teria lembrado simplesmente que as tarifas impostas ao Brasil não fazem sentido, mesmo sob a ótica defendida pelos Estados Unidos, pela simples e boa razão de que o comércio bilateral se mantém superavitário e em favor daquele país. Questões mais delicadas, como a imposição de sanções a autoridades brasileiras, também foram abordadas, resultando de concreto a perspectiva de que conversas mais amplas possam ter início imediato. Foi dito também que o próprio Trump teria orientado sua equipe nesse sentido, deixando no ar a impressão de que a urgência já foi bem percebida. E assim abrindo espaços, como devido, para que diálogo e cooperação prevaleçam.
Trata-se de possibilidade que na realidade deveria ser considerada num plano bem mais amplo. Para os Estados Unidos, as três américas, do Alaska à Patagônia, representam espaço de primordial importância estratégica. Mas relações estáveis e duradouras, além de confiáveis, jamais poderão ser alcançadas a partir da mera reprodução de modelos que remetem ao colonialismo ou à dominação pura e simples. Trata-se apenas de enxergar o óbvio. Para assim entender e alargar os caminhos da cooperação e do entendimento, da construção comum de modelo político e econômico que promova prosperidade e redução dos desníveis socioeconômicos que adubam instabilidade e insegurança. É possível e será certamente mais inteligente, com a força bruta finalmente abrindo espaços para a razão.
Tudo pode parecer utopia, quase delírios mantida a lógica do confronto, cujo fracasso a história registra e condena. Mas também pode perfeitamente ser diferente, desde que efetivamente abertos e alargados os espaços da convergência inteligente e pragmática. Mesmo que com uma forte dose de otimismo, o encontro de domingo na Malásia entre os presidentes do Brasil e dos Estados Unidos bem poderia ter tal dimensão, para além da resolução de mal-entendidos plantados por conveniência. É possível e seria muitíssimo melhor.
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