Editorial

Além da imaginação: os verdadeiros propósitos da tecnologia

Os celulares, por exemplo, facilitaram as relações interpessoais, mas também trouxeram problemas para o cotidiano
Além da imaginação: os verdadeiros propósitos da tecnologia
Foto: Marcello Casal Jr. / Agência Brasil

Muito provavelmente o melhor símbolo da modernidade, os telefones celulares em menos de duas décadas conquistaram o planeta. Para o bem e para o mal. Facilitaram as relações interpessoais, aproximaram pessoas, encurtaram distâncias e promoveram negócios, tudo isso para muito além da imaginação. E fazendo do que bem poderia ser rotulado como ficção científica parte do cotidiano de milhões, bilhões na realidade, de pessoas no mundo inteiro. Faz tempo deixaram de ser limitados à própria telefonia, comunicação de voz, para se transformarem em computadores portáteis e com capacidade de processamento até pouco tempo disponível apenas em máquinas de grande porte e alto custo.

Mas avanços que implicaram também em inconvenientes igualmente incorporados ao cotidiano, algo que pode ser tomado como comparável à invasão da privacidade, a abordagem indesejada e inconveniente, com ligações que, conforme dados brasileiros, sobem à inacreditável escala do bilhão. Tudo com uma capacidade de adaptação e resistência que assombra. Primeiro foi o chamado telemarketing fazendo das ligações indesejadas um tormento, processo que de alguma forma foi contido, mas abriu espaço para o que está sendo chamado agora de “ligações mudas”. O telefone toca e quando o usuário atende fica mudo, porém alimentando um banco de dados que vai servir a investidas futuras, por suposto apontando linhas ativas, preferenciais, portanto, e inativas.

São ligações robotizadas, possíveis com utilização de sofisticada tecnologia, e que sobem à escala dos bilhões. Para que se tenha melhor ideia do tamanho do problema, a Anatel afirma que seus controles conseguiram evitar pelo menos 200 bilhões – isso mesmo! – de chamadas. São desvios que não deviam, que não poderiam acontecer e que nos fazem entender como avanços tecnológicos concebidos para facilitar a vida acabam de certa forma fazendo o oposto.

Não se pode também aceitar os fatos como consumados como se não existissem meios e modos de deter tantos abusos. Seria de se imaginar que a mesma tecnologia que os facilita dispõe de ferramentas para detê-los, desde que seja esta a efetiva vontade dos operadores. Este é o ponto para avançar ou recuar, não sendo aceitável a leniência de operadoras e organismos controladores que tem sim capacidade e obrigação de deter abusos nestas proporções.

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Trata-se pura e simplesmente de devolver a tecnologia a seus verdadeiros propósitos.

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