Antes que seja tarde

A questão da regulamentação das redes sociais e seus equivalentes prossegue em aberto no Brasil, apesar das múltiplas evidências dos riscos a que estamos todos sujeitos ou da mera observação do que se passa em países mais adiantados, que já cuidaram de se precaver. Aqui, ao contrário, a discussão tomou um indesejado tom político, com a oposição insistindo que o abuso verdadeiro reside nas tentativas de controle que, despropositadamente, associa a censura ou ataque à liberdade de expressão. Enquanto isso, lixo continua sendo produzido em escala que até há pouco seria inimaginável, com potencial para se transformar em ameaça ao sistema político-social sob o qual vivemos.
Como já foi dito e repetido, toda atividade humana, desde o matrimônio que simbolicamente seria a mais íntima e pessoal de todas, está sujeita a mecanismos de controle, não sendo diferente inclusive com a própria imprensa, em que liberdade absolutamente não pode ser confundida com mentira. Perder tempo, adiar decisões que já poderiam ter sido tomadas simplesmente repetindo e copiando o modelo de países europeus mais adiantados significa potencializar riscos e um descontrole com o qual não se pode mais conviver.
E não estamos falando apenas do uso político dessas ditas ferramentas de integração social, como tem acontecido no Brasil e em outros países, comprometendo ou ameaçando questões vitais. A coisa já foi mais longe, principalmente, agora, com o suporte da chamada inteligência artificial, conforme mostrado no domingo passado no programa Fantástico, da TV Globo. São casos, a cada dia que passa mais comuns, da exploração de jogos de azar, operados a partir do exterior, de golpes os mais variados, todos eles casos de polícia e até de propaganda falsa que se apropria da imagem de pessoas e empresas, tudo isso para enganar consumidores. Com o agravante, conforme já apurado, de que em aproximadamente 70% dos casos a propaganda enganosa envolve a área de saúde.
O mais grave é que estamos falando de anúncios pagos, que têm origem e destino, portanto claramente identificáveis, mas que ainda assim são aceitos pelas diversas plataformas que operam as ditas redes sociais. Tudo isso, e independentemente de uma futura regulamentação, já afrontando a legislação do País, no que diz respeito à proteção do consumidor ou no que toca ao uso fraudulento de personalidades amplamente reconhecidas como o médico Dráuzio Varela. Diante do que se passa, a passividade é tão intolerável quanto a própria transformação das redes em ferramentas do mal.
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