Editorial

Apelo ao bom senso

Apelo ao bom senso
Foto: Aeroin/Divulgação

Afirmar que no Brasil, na esfera pública, gasta-se muito e gasta-se mal é ser redundante. É o mesmo que repetir uma ladainha de que ninguém discorda, mas que poucos se mostram empenhados em mudar. O resultado é bem conhecido e toma a forma de periclitante desequilíbrio das contas públicas, espécie de bomba-relógio que não tem como permanecer em repouso por muito tempo. E, nesse contexto, também a promessa de que haverá, ainda esse ano, equilíbrio entre receitas e despesas continua soando distante da realidade mais provável. Afinal, como também tem sido dito e repetido, o buraco do déficit foi cavado tão fundo que é insensato imaginar que ele possa ser tapado exclusivamente com o – improvável na escala reclamada – aumento de receitas, conforme Brasília teima em repetir.

Como também é dito e repetido, porém apenas nos palanques e campanhas, é preciso e urgente por a tesoura do corte de gastos para funcionar, ideia que não encontra abrigo justamente porque os que podem cortar são também os que mais querem gastar. Em síntese, uma conta que não fecha e sobre esse ponto não devem existir dúvidas, menos ainda ilusões. A disciplina desejável tanto quanto necessária deveria seguir uma outra rota também, fértil e igualmente desconsiderada, com foco na redução de desperdícios. Afinal, como já foi dito, dinheiro que não tem dono desaparece fácil.

Uma situação que Belo Horizonte enfrenta no momento e com a qual parece não saber lidar ilustra bem o que tentamos demonstrar. Falamos do Aeroporto do Carlos Prates, desativado no ano passado. Um equipamento pronto e acabado, uma das duas pistas de pouso e decolagem existentes na cidade é posta de lado podendo se transformar em parque, conjunto habitacional ou o que seja. Será mesmo que faz sentido jogar fora o que está pronto ? Não parece sensato e, para isso, não é preciso lembrar os argumentos contra a empreitada em andamento, a importância da disponibilidade de uma segunda pista alternativa ou as atividades paralelas que se desenvolvem no Carlos Prates e bem podem ser ampliadas.

Basta que o assunto seja avaliado na perspectiva do desperdício e, consumada a decisão, logo surja alguém para defender que será preciso construir novo aeroporto em Belo Horizonte.

Ressaltar esse ponto sobre o qual não faltarão exemplos ilustrativos daquilo que tentamos demonstrar, fica o apelo ao bom senso ou lembrança de que esses caminhos tortuosos também ajudam a alimentar o crônico desequilíbrio das contas públicas em nosso País.

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