Apostando para perder: bets trazem riscos e prejuízos

Estimativas recentes, chanceladas pela Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), dão conta de que as plataformas eletrônicas de apostas estariam retirando da economia algo como R$ 100 bilhões em potencial de consumo. A entidade, uma das 15 signatárias de documento recentemente encaminhado ao governo federal alertando para os riscos associados ao crescimento das plataformas de apostas, reuniu dados contundentes a respeito.
Primeiro, evidências de que apostas atrairiam principalmente assalariados de baixa renda, já podendo ser observado no mercado de trabalho ocorrências atípicas, como pedidos de vales ou adiantamentos e até mesmo demissões fora de padrões usuais, situação que seria reflexo do endividamento com apostas. Nota-se também que os padrões de consumo não estariam refletindo o bom momento da economia, com reflexos no mercado de trabalho e na renda, porém não – nas proporções correspondentes – no consumo de primeira necessidade e na alimentação fora de casa.
Cabe, e sem lugar a dúvidas e muito menos procrastinação, atentar para o que se passa, tomando a sério as evidências já recolhidas. Para além, evidentemente, dos casos policiais que tem vindo à tona, em quantidade que também chama atenção. E dando conta da possível associação de ditos influencers com plataformas de apostas ou diretamente com o crime organizado que igualmente teria percebido a nova oportunidade de, digamos, negócios. Nada disso parece aceitável, da mesma forma que não bastaria para justificar a liberação tendo como contrapartida, e conforme foi alegado, possível incremento da arrecadação tributária.
Os dados já recolhidos, onde não estão incluídas dúvidas com relação ao aumento da ocorrência de suicídios, bastam para que seja acionada a luz vermelha. E chamam atenção também para a velocidade da consolidação das plataformas de apostas, que são sabidamente viciantes e se apropriaram das facilidades disponibilizadas pelas tecnologias modernas. Justamente para alcançar os estratos mais vulneráveis da população e, uma vez mais, pelas linhas tortas, pelas mãos, do submundo e da criminalidade.
Não se está falando de riscos, tampouco de possibilidades indesejadas. O documento, na forma de manifesto, endereçado às autoridades federais tem base na realidade e em fatos comprovados, muito provavelmente numa visão até acanhada do que se passa nos bastidores e nas sombras. Imobilismo ou qualquer forma, disfarçada ou não, de consentimento será o mesmo que escancarar as portas a tudo aquilo que de mau apostas massificadas podem significar.
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