Editorial

Apostar e ganhar

Apostar e ganhar
Crédito: Alisson J. Silva

Se a indústria automotiva, a reboque da indústria do petróleo, condicionou a economia global no século passado, presentemente o setor convive com incertezas bastante grandes. Para começar, seu próprio conceito, fundado no transporte individual, associado à própria liberdade, que se mostrou inviável, seja pela questão ambiental, seja pela saturação dos espaços de circulação. Desse impasse derivou o conceito de mobilidade, associado ao coletivo e não mais ao individual, além da busca de alternativas nos sistemas de tração, abrindo espaços para veículos elétricos, em que muitos enxergam o futuro.

Apesar do crescimento acelerado na produção de veículos assim motorizados, que vão sendo incorporados à paisagem urbana, persistem grandes dúvidas quanto à possibilidade de oferta de energia elétrica para alimentar as baterias de uma frota que parece crescer exponencialmente. O hidrogênio, capaz de alimentar células que geram eletricidade e, ao mesmo tempo, autonomia, pode ser a resposta para o futuro, com a tecnologia hoje adotada sendo na realidade etapa intermediária para a evolução que ditaria o fim dos motores a explosão, de baixa eficiência, independentemente de queimarem derivados de petróleo ou etanol.

O Brasil tem assistido essa corrida a distancia e parece estar ficando para trás depois de ter ocupado, faz pouco tempo, a posição de quinto maior produtor global de automóveis. Parece ter faltado compreensão dos movimentos anotados e sua direção, o que é evidenciado por duas decisões recentes. A primeira, a de suspender isenções tributárias para importação de veículos elétricos, o que facilitou sua introdução no mercado interno bem como a produção local e a segunda o lançamento de um ambicioso programa – batizado como “Combustível do Futuro”- e que retoma a ideia de fazer do etanol a chave de transformações cuja direção parece ainda bastante incerta.

É bem possível que estejam mais próximos da razão aqueles que entendem que o destino do etanol seria mais nobre se associado à produção de veículos híbridos, numa fórmula mais inovadora e livre dos riscos de alimentar, direta ou indiretamente, a poluição ambiental. Se o Brasil pretende, de fato, devolver relevância global à sua indústria de material de transportes, será preciso em primeiro lugar tentar compreender e tanto quanto possível antecipar a direção das mudanças que já acontecem e que ainda virão.

Um esforço claramente multidisciplinar, que não se pode perceber no programa agora anunciado e apontado como parte do esforço para promover a descarbonização.

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