Apostas on-line podem gerar implicações absolutamente devastadoras

Informações recolhidas junto ao Banco Central e devidamente processadas permitiram à Confederação Nacional do Comércio trazer à luz novos dados sobre a atuação das plataformas on-line de apostas esportivas e cassinos virtuais. Ficamos sabendo, assim, e conforme já foi relatado no Diário do Comércio, que os brasileiros gastaram no ano passado R$ 240 bilhões com tais apostas, sendo que deste total R$ 103 bilhões provavelmente representaram recursos drenados de orçamentos familiares. Objetivamente, dinheiro que deveria ter sido destinado a custear despesas básicas, sobretudo da população mais pobre, mas acabou servindo apenas para alimentar ilusões – evidentemente frustradas – do ganho fácil e imediato. Conclusão que ganha corpo diante da avaliação do Banco Central de que cerca de 80% do total gasto em 2024 teve como destino cassinos virtuais.
Habitamos um país de hábitos um tanto curiosos, se não desconexos. Nas alturas dos anos 40 do século passado, cassinos convencionais que existiam no País, por exemplo, na Pampulha em Belo Horizonte, em Araxá ou Quitandinha no Rio de Janeiro, foram banidos porque a esposa do então presidente da República, Eurico Gaspar Dutra, entendia que cassinos eram como que “obras do diabo” e representavam grave ameaça para a religião e para os mais pobres. Uma decisão que trouxe grandes prejuízos para o turismo, mas não bastou para afastar os interessados nas roletas.
Os cassinos convencionais continuam proibidos por força de uma decisão que caducou, enquanto novas modalidades de jogatina prosperam para muito além do imaginável. E não se abalou em nada, cabe ressaltar, nem mesmo por conta das revelações que vieram a público no final do ano passado, dando conta que até recursos recebidos através do programa Bolsa Família estavam alimentando os jogos virtuais, inclusive, ou sobretudo, aqueles clandestinos e controlados de fora do País. Muito escândalo e, como de costume, que se saiba nenhum efeito que pudesse significar alguma contensão.
Providências efetivas, que só podem ser entendidas como razoáveis, além de necessárias, continuam no terreno das boas intenções, da imaginação, pouco ou nada importando tudo que de mal possa ser associado à jogatina de massa, um processo que comprovadamente já é reconhecido como altamente viciante. Para quem não entendeu, uma doença, algo que está também na órbita da saúde pública e tem implicações absolutamente devastadoras. É preciso reagir, só cabe entender que não há tempo para esperar.
Ouça a rádio de Minas