Aprendendo com apagão

São Paulo, maior cidade e centro econômico do País, viveu – ainda vive – um apagão de energia elétrica que, pelas proporções e extensão, não tem precedentes. Um temporal, por mais forte que possa ter sido, não parece bastante para explicar a situação, como tenta fazer a concessionária local. Vale dizer, a Enel, empresa italiana que assumiu a tarefa não faz muito tempo com a privatização da antiga Cesp. Uma mudança apresentada como para melhor, sinal de “modernidade” e destinada a entregar aos consumidores serviços melhores e mais baratos. Pior, um modelo que não é inédito e pode ser replicado inclusive em Minas Gerais, com o consequente fim da Cemig.
O que se passa em São Paulo, que bem poderia ser apontado como algo equivalente a um apagão de razoabilidade, sugere reflexões, sugere inclusive lembrar que serviços dessa natureza, sensíveis e estratégicos, não são privados nem mesmo nos Estados Unidos, dito templo da iniciativa privada, o que também acontece nos principais países da Europa. Diferentes, além de incapazes, somos nós, que o sistema elétrico, somatório de empresas isoladas, foi operado até meados do século passado por empresas estrangeiras que, tendo perdido interesse pelo negócio, deixaram que ele fosse sucateado, em alguns casos recebendo gordas indenizações pelo fim das concessões. E foi assim que nasceram empresas como a Cemig, que chegou a ser modelo para o sistema elétrico nacional e apontada entre as melhores do mundo.
Quanto à Enel, que hoje tenta transferir para árvores a culpa pelo que acontece em São Paulo, caberia registrar também que desde que assumiu a concessão dobrou os lucros, reduziu em 35% seu quadro de funcionários e no ano passado ficou em 19º lugar no ranking da Agencia Nacional de Energia Elétrica (Aneel) relativo às 29 distribuidoras que atuam no País. E tudo isso com elevação de tarifas sem correspondente melhoria nos serviços, conforme parece ter ficado suficientemente claro agora. Se isso ocorre na maior e mais importante das cidades brasileiras também não nos parece difícil imaginar o que pode acontecer nos rincões desse país continental. Só cabe, portanto, esperar que do desastre consumado, ainda sem solução completa passados mais de 7 dias, reste a lição que seja entendida e, mais, corretamente avaliada.
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