Editorial

Aprender com erros

Situação da Enel em São Paulo reacende a reflexão sobre o papel das estatais no País, sobretudo no setor energético
Aprender com erros
Foto: Reuters/Amanda Perobelli

Setores influentes no País, na política, nos negócios e na própria imprensa, promovem, sistemática e incansavelmente, campanha contra empresas estatais, por eles vistas e apontadas como donas de todos os defeitos. Foi assim no passado, continua sendo assim no presente, em que pese evidências que apontam na direção contrária, muitíssimo bem ilustradas pelo virtual colapso do sistema elétrico em São Paulo, sob concessão de empresa de origem italiana – a Enel Brasil -, hoje sob risco de anulação de seus contratos. Eis a consequência previsível de seguidos apagões, fatos que guardam relação com contensão de investimentos, inclusive de manutenção, mais que com questões ambientais, agora abertamente discutidos e com providências em andamento. Algo para levar à reavaliação de conceitos e a outra esfera de reflexões.

Para seguir o exemplo de países como a Grã-Bretanha, que está revendo privatizações que vêm da época do liberalismo de Margareth Thatcher, ou até dos Estados Unidos onde setores estratégicos como geração e distribuição de energia elétrica permanecem sob estrito controle militar. Ou também para lembrar que na metade do século passado, ao final da Segunda Guerra Mundial, nosso País entendeu que para alavancar o processo de industrialização seria necessário ampliar, e muito, a oferta de energia elétrica, tarefa reconhecidamente negligenciada pelas concessionárias estrangeiras que dominavam o setor. Nasceram assim a Cemig, em Minas Gerais, e adiante a Eletrobras.

Mesmo que a oferta de energia elétrica em termos adequados, inclusive quanto às tarifas então praticadas, reconhecidamente o principal suporte para a expansão econômica que o País então conheceu, a demonização das estatais jamais perdeu fôlego e, afinal, acabou produzindo as mudanças que, dentre outros efeitos indesejados, agora colocam sob risco o fornecimento de energia elétrica em São Paulo, precisamente o estado mais rico do País. Nada que se resolva com o afastamento da atual concessionária se substituída por outra que operaria nas mesmas condições e com iguais objetivos.

Evidentemente que o problema precisa ser resolvido com urgência proporcional à importância do Estado para a economia nacional, sendo bastante lembrar que autoridades local já disseram e repetiram que a Enel não tem mais condições de prestar serviços, nem “estrutura e compromisso para fazer frente às necessidades”, conforme palavras do prefeito de São Paulo. Fica o mau exemplo, ficam os sinais de alerta que precisam e devem ser bem observados por aqueles que ainda acreditam, por exemplo, que a privatização da Cemig, em Minas Gerais, é caminho sem volta.

Rádio Itatiaia

Ouça a rádio de Minas