Editorial

Beirando o abismo

Verbas das chamadas emendas parlamentares têm tido um destino incerto e não sabido
Beirando o abismo
Crédito: Reprodução Adobestock

Enquanto o País parece caminhar à beira de um abismo e sem que a população se dê conta dos riscos a que todos estamos expostos em meio a uma crise de valores sem precedentes, a verdadeira natureza do processo em curso começa a ser afinal melhor percebida. Para deixar de lado a ideia mais conveniente de que tudo não passaria de algo como um desarranjo entre os três poderes da República, em cujo equilíbrio repousa a própria estabilidade de todo o sistema político entendido como o mais adequado para a construção da nação brasileira.

O Legislativo que se diz atacado e ameaçado por conta de alegadas intromissões do Judiciário e que vem tentando, reiteradamente, construir barreiras, ou blindagem, capaz de proteger seus integrantes, mesmo que para isso seja necessário atentar contra a própria Constituição, pode estar na realidade caminhando na direção de impasse que beira contornos de grave impasse institucional. Estamos falando do preciso destino de verbas que abrigadas pelas chamadas emendas parlamentares tem tido na realidade destino incerto e não sabido. E com evidências de corrupção em larguíssima escala, assunto sob investigação do Supremo Tribunal Federal (STF) e que poderia envolver, conforme comentários correntes em Brasília, algo como duas centenas de parlamentares, talvez mais, não faltando nessa lista alguns dos nomes mais em evidência na cena política atual.

Um escândalo de proporções certamente inéditas, grande o bastante para explicar também as ações visando desacreditar o Judiciário, com foco no Supremo e nos ministros cuja atuação mais chama atenção, convenientemente apelidados de ditadores de toga. Desacreditar e desqualificar quem representa ameaça, quem de alguma forma poderia acionar o freio e carrega o poder de simplesmente dizer um sonoro e definitivo “basta”, como de certa forma já vem acontecendo, é o primeiro alvo dessa escalada. E que aponta também na direção da Polícia Federal, tudo para minar e enfraquecer as instituições. Para assim manter desobstruídos os canais, ou porões, que tem favorecido a própria corrupção assegurando virtual impunidade para seus mais assíduos praticantes.

São tantos e tamanhos os interesses em jogo que desconstruir as barreiras que já existem e ao mesmo tempo impedir que outras ainda maiores sejam erguidas definitivamente não é tarefa simples. Eis porque simplesmente enxergar o que se passa, percebendo a verdadeira natureza das ameaças já representa avanço importante e a ser comemorado.

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