Brasil e Argentina

Javier Milei, presidente eleito da Argentina, toma posse neste final de semana. Alguém que parece ser muito diferente do candidato que, em campanha, teve arroubos que definitivamente não cabem na linguagem diplomática e em nada contribuíram promover avanços nas relações entre os dois principais países do Continente, que são também parceiros comerciais mutuamente importantes. O presidente Lula, não por acaso evidentemente, está entre os convidados, mas já anunciou que não estará presente. Fez bem, deu o sinal adequado diante das desnecessárias indelicadezas de que foi alvo, mas certamente não está perdendo de vista que uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.
Milei candidato prometia dolarizar a economia de seu país, mesmo sabendo não dispor de reservas para cumprir o prometido, da mesma forma que disse que acabaria com o Banco Central do país, além de promover outras mudanças um tanto radicais, chegando a dizer que ignoraria os dois principais parceiros comerciais de seu país, China e Brasil, acrescentando não ter qualquer simpatia por seu vizinho “comunista”. Era campanha e, gostem ou não, deu certo para ele. Agora, diante da tarefa de governar, de pelo menos tentar melhorar a difícil condição de seu país, sabe que as coisas serão muito diferentes. Não por acaso emissários argentinos já estiveram em Brasília para conversas muitíssimo diferentes.
A ausência de Lula, tanto quanto a presença de Bolsonaro acompanhado de uma grande comitiva, fazem parte do balé diplomático, no caso com um tempero político um tanto amargo. Mas o que realmente interessa, na perspectiva brasileira, é que o país vizinho encontre seu rumo ou, quando menos, dias melhores, facilitando os negócios mútuos e contribuindo para consolidar a integração continental e a tão necessária aproximação com a Comunidade Europeia. Na segunda-feira, primeiro dia útil para o novo governo argentino, a campanha política terá terminado de vez, chegando a hora de construir e não de derrubar pontes.
O caminho da recuperação econômica e da estabilidade política é o que mais pode interessar e cabe desejar que fora dos palanques Javier Milei seja capaz de tomar a melhor direção, agindo menos com emoção e mais com razão. E do Brasil que, queiram ou não os vizinhos, é peça absolutamente fundamental nesse xadrez, que seja capaz de contribuir, buscando o que de melhor oferece sua diplomacia e entendendo que a América Latina estará melhor e mais forte se os dois principais países da região forem capazes de entender a importância desse consenso.
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