Editorial

Brasil ilegal: País vive guerra não declarada e precisa responder à altura

Atividades explicitamente ilegais, como pirataria, roubo, concorrência desleal e furto de energia elétrica e água, além de sonegação, geraram cerca de R$ 453 bilhões de prejuízo aos cofres públicos
Brasil ilegal: País vive guerra não declarada e precisa responder à altura
Crédito: Pexels

Mereceu pouca ou nenhuma atenção o estudo realizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e federações do Rio de Janeiro e de São Paulo, Firjan e Fiesp, denominado “O Brasil ilegal em números”.

Um trabalho ambicioso abrangendo atividades explicitamente ilegais, como pirataria, roubo, concorrência desleal e furto de energia elétrica e água, além de sonegação, tudo isso para concluir que as perdas identificáveis somaram, apenas em 2022, perto de R$ 453 bilhões. Desse total, o estudo aponta que R$ 136 bilhões vêm de prejuízos diretos com tributos que deixaram de ser arrecadados e outros R$ 297 bilhões vêm de perdas registradas por 16 setores econômicos, para concluir que “o mercado ilegal drena de forma crescente recursos da economia, distorce relações concorrenciais, prejudica a estrutura pública, contribui para a insegurança, precariza o mercado de trabalho e o bem-estar da população, comprometendo o futuro do País”.

Por ocasião da divulgação do trabalho e suas conclusões, durante evento em São Paulo, o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, disse que o combate ao Brasil ilegal é tarefa urgente. “Esse prejuízo para a sociedade de R$ 453 bilhões é algo que deve ser levado em consideração e examinado com muita preocupação por parte do governo, do Estado brasileiro”. Já o presidente da Firjan, que assinou conjuntamente o trabalho, apontou que “o avanço da criminalidade organizada sobre a economia do Brasil se dá numa velocidade espantosa e alcança proporção absurda”.

Por horas e, sobretudo, diante da virtual ausência de repercussão diante da realidade cruamente desnudada, as reações anotadas melhor se alojam no plano da retórica e da formalidade. Dando como precisos os números, entendido que eles representam apenas uma parte da conta, era de se esperar mais. Conhecido o tamanho das perdas, cuidar de, se não estancar a sangria de proporções hemorrágicas, pelo menos reduzi-las drástica e rapidamente deveria passar à condição de prioridade absoluta nas esferas da gestão pública e da política, um ponto de honra que, se ignorado, bem poderia caracterizar algum tipo de conivência.

O conteúdo continua após o "Você pode gostar".


Comentário recentemente publicado nesse espaço chamava atenção e cobrava providências com relação a apurações da Polícia Federal sobre atividades do crime organizado no transporte coletivo em São Paulo, bem como sua infiltração na esfera do Legislativo. Os números agora conhecidos só fazem reforçar o que foi dito anteriormente, bem como a conclusão de que o País está envolvido numa guerra não declarada e não tem como fugir ao desafio de responder à altura.

Rádio Itatiaia

Ouça a rádio de Minas