O Brasil em marcha a ré

A expansão da economia brasileira, nas alturas dos anos 70 e 80 do século passado e em sequência a um processo iniciado no pós-guerra, permitiu que se imaginasse que o País entraria no clube dos países desenvolvidos nas alturas da virada do século. É de todo desnecessário assinalar que foi um grande engano, com o século XXI sendo marcado, até agora, por um movimento contrário, de empobrecimento, de distanciamento do mundo desenvolvido. Algo que se percebe mais claramente no desempenho do setor industrial, que obrigatoriamente pavimenta o caminho para o desenvolvimento. O setor acumula, desde 2011 e de acordo com dados recém-divulgados na Europa, retração de 18%, o que bastaria para demonstrar as proporções do fenômeno da desindustrialização. No mesmo período a indústria mundial cresceu 29%.
Parece distante o tempo em que a indústria de construção naval brasileira figurou entre as maiores do planeta ou em que até mesmo a exportação de armamentos figurava, e com algum destaque, nas transações internacionais do País. A indústria brasileira sofreu – e sofre – em duas frentes. De um lado perdeu competitividade, atolada no chamado “custo Brasil”, do qual hoje pouco se fala. Tributos, custos financeiros, burocracia, dentre outros, são componentes desta cesta de maldades, cujos efeitos negativos foram potencializados pela expansão da economia chinesa. No período contado a partir da segunda década do século a demanda interna fez com que as vendas do varejo crescessem 77,6%, mas esse espaço foi ocupado quase que integralmente por produtos vindos da China. Algo evidente quando se constata que no mesmo período a produção física da indústria brasileira caiu 5,7%.
Sem que essa realidade seja encarada e transformada, sem que a indústria volte a ser o motor do crescimento sustentado, com geração de empregos de qualidade e renda, não há como imaginar que o Brasil possa chegar a um processo de crescimento sustentado ou voltar a sonhar com algum tipo de protagonismo na economia global. E mudar nessa direção necessariamente demanda muito mais que medidas pontuais, incapazes de fazer mais que mascarar, e temporariamente, os cenários. Cabe indagar se nas altas esferas da administração pública existe consciência da realidade que se apresenta, da necessidade de reagir e das proporções dessa tarefa.
O fato é que o Brasil, que chegou a ter algum brilho da cena da economia mundial, parece ter perdido o fôlego e o rumo, sem se dar conta de que o empobrecimento vai se transformando numa regressão abissal. A possibilidade de olhar para frente com mais confiança e otimismo nos demanda deter este processo.
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