Editorial

Caçando marajás

Caçando marajás
Crédito: Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

O Estado brasileiro é caro, pesado e ineficiente, tendo acumulado ao longo do tempo gorduras que definem um desequilíbrio estrutural. Algo que já foi apontado como uma espécie de sequestro patrocinado por aqueles que se beneficiam da situação. Mudar, na ótica dos que não padecem da visão corrompida de que tudo não passa do normal, aceitável e até necessário, deveria ser o fundamento inabalável de uma reforma nunca encaminhada a sério e da qual mais uma vez se fala em Brasília. Para recuar no tempo, chegando a 1989, ano da primeira eleição presidencial depois da redemocratização, algo que remete ao fim dos marajás, funcionários públicos cujos ganhos ultrapassam em muito os limites do razoável, assunto que foi mote da campanha de Fernando Collor de Mello, o candidato vitorioso.

Como o “caçador de marajás” se revelou uma grande farsa também aqui o prometido não aconteceu.

E como afinal poderia acontecer, se o que está em jogo são justamente os interesses dos mais poderosos entre os poderosos? Pergunta e resposta bastante difíceis, ainda que o assunto volte a ser discutido e o próprio ministro da Fazenda diga para quem quiser ouvir que “a lei dos supersalários pode disciplinar uma coisa importante, que é pôr fim a determinados privilégios. E significa uma economia robusta para o Estado brasileiro, fora o debate sobre a moralização do serviço público”. Foram comentários, cabe registrar, feitos depois de reunião com Simone Tebet, ministra do Planejamento; Esther Dweck, da Gestão e Inovação; e Rui Costa, da Casa Civil em que supostamente o assunto esteve em pauta.

Dele também se ocupa o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, que pelo menos da boca para fora engrossa o coro dos que sustentam que a meta de zerar o déficit público já no próximo exercício não se sustenta apenas como alavancagem de receitas, sendo absolutamente necessário que a questão seja tratada também na perspectiva do corte de despesas. Lira, bem ao seu estilo, promete encaminhar proposta de emenda constitucional herdada do governo anterior caso o atual não se mecha.

Ele entende que corte de gastos mudaria a percepção a respeito da possibilidade de cumprimento das metas para as contas públicas.

Resumindo, para concluir, um assunto que, a sério, não tem como ser examinado fora do contexto de uma reforma administrativa que desnude e extermine abusos, começando pelos penduricalhos que adornam os proventos dos ditos marajás, ajudam a corroer as finanças públicas e fazem do teto salarial piada de muito mau gosto. É esperar para conferir no que vai dar tudo isso.

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