Carnaval de Belo Horizonte: faltou pensar em quem não gosta da folia

Durante anos a fio o Carnaval foi, para os belo-horizontinos, pouco mais que um registro no calendário, com a cidade na realidade bem mais próxima da condição de refúgio para os que preferiam manter conveniente distância dos ditos folguedos momescos. Mudou e mudou muito, não tendo sido preciso mais que dez anos, pouco mais ou pouco menos, para que a cidade passasse a ocupar lugar de destaque, principalmente por conta dos blocos e dos desfiles de rua, algo diferente no cenário mais geral, capazes de atrair centenas de milhares de visitantes, trazendo movimento inesperado para toda a cadeia do turismo e serviços correlatos.
Terminada a folia, pelo menos para os mais atentos ao calendário, e mesmo sabendo que os festejos, pelo menos em parte, prosseguirão ate o próximo domingo, chegou a hora de fazer o balanço final. Sob muitos aspectos um grande sucesso a ser comemorado, tanto pelo público alcançado, número que pode ter chegado, conforme contas dos mais entusiasmados, a três milhões de foliões, seja pela primorosa organização de todos os eventos e o clima de segurança e – relativa evidentemente – tranquilidade que marcaram todos os eventos. Em algo dessas proporções, talvez sem equivalentes que permitam comparações, um feito notável e mais pontos para o Carnaval de Belo Horizonte, que já reclama seu lugar entre os grandes, do Rio de Janeiro, Salvador e Recife, passando por São Paulo. Sossego ou repouso que vá ser procurado em outras plagas, posto que Belo Horizonte já ousa reclamar para si o título de maior, mais animado e melhor Carnaval de rua do Brasil. Vale dizer, no mundo inteiro.
Tudo bom, tudo bem, enquanto são aguardados os números finais a respeito do faturamento, dos hotéis ao comércio, passando por restaurantes e serviços, durante os dias de festa. Por certo, mais razões para comemorar, mais motivos para já começar a pensar nas festas do próximo ano. E com um ponto que, mesmo em meio a tanta euforia, não pode deixar de ser considerado. É que faltou pensar em quem não gosta de Carnaval, não aceita a animação compulsória, impositiva e assim indesejada, sem ser consultado, ficou no meio da folia.
Estamos pensando, e é preciso pensar neles, nos moradores dos bairros, alguns deles exclusivamente residenciais, afetados pela barulheira, pelo movimento além dos limites, pelas dificuldades de circulação e outros tantos inconvenientes que não precisam ser enumerados. Literalmente, pela impossibilidade de sair de casa, mesmo que isso signifique conviver com o insuportável.
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Como não dá para apagar os descontentes ou fingir que eles não existem será de todo conveniente começar a pensar desde já em como poupá-los ou simplesmente garantir que tenham algum sossego em meio a tantos e tamanhos inconvenientes.
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