Editorial

A chance de fazer melhor

O futuro das chamadas terras-raras brasileiras pode (e deve) ser diferente do que foi o nosso passado
A chance de fazer melhor
Foto: Reprodução Adobe Stock

Há quem diga, e assim consta nos registros da história oficial, que a frota de Pedro Alvares Cabral chegou à costa brasileira trazida pelos ventos e correntes marítimas. Por acaso, já que o destino traçado era palmilhar a cobiçada rota das especiarias, tendo a Índia como porto final. Há também quem diga que havia intencionalidade, conhecimento anterior sobre as terras da América e, sobretudo, enorme cobiça que relação aos tesouros que elas poderiam esconder. Nesse sentido, e independentemente do que possa ter acontecido, Cabral e seus patronos acertaram. Se é verdade que a prata fez a alegria dos conquistadores espanhóis, o ouro e as pedras preciosas das terras convenientemente apartadas pelo Tratado de Tordesilhas deram a Portugal um brilho que ele nunca tivera, nem antes nem depois. E mudaram a economia mundial financiando a revolução industrial.

Esgotadas as riquezas que a extração apressada e, dadas às condições da época, foi apenas superficial, foi pouco, quase nenhum, o proveito para a população nativa. Rapidamente restabelecido o ciclo de miséria, não demorou também para a retirada dos colonizadores, tão saudosos da Europa quanto desinteressados dos trópicos. Mas mesmo assim capazes de cobrar gorda indenização pelo “favor” de nos concederem independência. Lições que não deveriam ser esquecidas, inclusive pelos portugueses que hoje recebem os brasileiros com um misto de arrogância e desprezo, movidos por preconceitos que nunca se apagaram.

Mas do lado de cá seria de se esperar que tivessem ficado pelo menos as lições que a história nos reserva. E para serem bem lembradas agora, quando mais uma vez parece estar na linha do horizonte a possibilidade de acesso a riquezas igualmente escondidas no subsolo, agora valorizadas diante da possibilidade de sua utilização na tecnologia que, tudo faz crer, moldará o futuro da humanidade. Estamos falando de terras-raras, nióbio, lítio, cobalto, níquel e outros minerais estratégicos e cujas reservas em solo brasileiros contam-se entre as mais importantes do planeta.

Cabe sonhar com os ganhos que tal riqueza poderá proporcionar, mas para que as melhores expectativas sejam concretizadas é preciso foco e determinação, e sem qualquer pressa. Para escapar de tentações imediatas e manter o entendimento de que beneficiar estes minerais para agregar-lhes valor é tarefa que não pode ser delegada. Porque não podemos e não devemos, afinal, correr riscos de repetir o passado. E mais uma vez entregar nossas riquezas em estado bruto para que os maiores ganhos acabem em outras mãos.

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