Editorial

Uma chance de melhorar

Uma chance de melhorar
Crédito: Freepik

Apesar dos conflitos abertos e de tensões que podem estar perigosamente próximas de um ponto de ruptura, existem também sinais de evolução pelo menos no tocante à economia global. Também nesse campo o planeta parece ter chegado a uma situação limite, bem exemplificada nas declarações do ministro Fernando Haddad, da Fazenda, durante a conferência de chanceleres, representando os 20 países mais ricos do mundo, na semana passada, no Rio de Janeiro. Para assinalar que a situação de desequilíbrio ficou insustentável, o ministro lembrou que 1% da população mundial que ocupa o topo da pirâmide da renda detém 43% dos ativos mundiais. Esse grupo emite a mesma quantidade de carbono que os dois terços mais pobres.

A concentração da renda, que avançou mesmo durante a pandemia, não pode prosseguir e as desigualdades foram transformadas em desequilíbrio estrutural, o que acaba sendo ameaça também para os mais ricos. Enxergar é o primeiro passo para mudar e, pela primeira vez, o tema não só está sendo discutido abertamente como começa a encontrar bons ouvidos. Como os do presidente Biden, dos Estados Unidos, que diz enxergar as proporções do desequilíbrio atual, aponta a pobreza como ameaça bastante clara e diz concordar com o presidente Lula quando ele defende uma nova governança global.

No Rio de Janeiro, na semana passada, ficou claro que o problema não só é percebido como a necessidade de correção é admitida. O mundo parece estar se dando conta de que é preciso agir, faltando estabelecer mais precisamente como agir, num processo que vai trazendo de volta as discussões dos anos 70, no século passado, em torno do estabelecimento de uma nova ordem econômica global. É disso, afinal, que estamos falando, já sendo possível repetir que os sinais são promissores. A começar da governança global, tema igualmente proposto pelo presidente Lula, para quem o sistema dominante, desde o final da Segunda Guerra, caducou. É preciso rever e fortalecer a estrutura da Organização das Nações Unidas (ONU), a começar de seu Conselho de Segurança, seguindo-se a revisão das estruturas dos organismos de fomento, como Banco Mundial e Fundo Monetário Internacional (FMI), que muito ajudaram na recuperação dos países ricos, porem à custa do desnivelamento que hoje é reconhecido e preocupa.

Já representa enorme alívio que tais questões sejam reconhecidas e, assim, discutidas com alguma naturalidade. Cabe esperar, com otimismo, que avancem e que na grande reunião de cúpula a ser realizada no Rio de Janeiro em novembro os primeiros resultados possam ser apresentados.

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