Editorial

Coleção de absurdos

Coleção de absurdos
Banco Central, querendo até parecer generoso, sugere poder cortar meio ponto na Selic nos próximos meses | Crédito: Reuters

A taxa básica de juros, também conhecida como Selic e fixada pelo Comitê de Política Monetária, do Banco Central, está atualmente em 13,75%. Isso significa que a taxa real, descontada a inflação, gira presentemente em torno de 8%, o que vem a ser a maior em todo o planeta e nem assim representa um retrato fiel da realidade. Quem chegar ao balcão de um banco e se candidatar a um empréstimo pagará, considerados todos os custos embutidos, e se seu pedido for aceito, muito mais. Como já foi dito e exaustivamente repetido, nada justifica, em termos do que possa ser lido nos bons manuais de economia, que assim seja, enquanto já foi dito no exterior que a política adotada congela as possibilidades de expansão da economia e a médio prazo pode ser algo como um suicídio. Afinal, o veneno é bem conhecido, foi exaustivamente testado e de alguma forma é administrado voluntariamente.

Uma teimosia bastante antiga, agora protegida pelo manto da “autonomia” do Banco Central e assim transformado, mais que uma questão técnica, de economia, em mais uma fonte de querela política, bastante curiosa por sinal. Empresários que têm negócios no País não se cansam de apontar o absurdo e a inconveniência da situação, que os sufoca. Mas curiosamente e no geral são os mesmos que, por razões políticas, entendem que a tal “autonomia” – em relação a quem, dentro de que limites e para que exatamente? – é algo como a reencarnação do direito divino, que a nenhum título pode ser contestado.

Encontrar quem ganha e quem perde nesse processo pode ser uma pista um tanto elucidativa, bem para quem sabe que o Estado brasileiro é o maior de todos os devedores, portanto também o que mais paga juros.

E tem mais: se alguém se escandaliza com os juros formais, se estudiosos afirmam e reafirmam que nenhuma economia tem como se sustentar nessas condições enquanto empreendedores abandonam essa condição em troca da posição mais favorável de rentistas, ainda ficam faltando outras explicações e ainda mais difíceis. Como afinal sustentar que são razoáveis e têm fundamentos aceitáveis as taxas praticadas à luz do dia – não consta que agiotas possam atuar nesse ambiente – a título de encargos para cheques especiais e cartões de crédito. E para não deixar escapar, como explicar os juros sobre empréstimos consignados?

O conteúdo continua após o "Você pode gostar".


Nada que seja novidade, nada que não tenha sido repetido à exaustão pelo saudoso vice-presidente José Alencar e agora repetido pelo presidente Lula e seu vice. Tudo isso enquanto o Banco Central, querendo até parecer generoso, sugere poder cortar meio ponto na Selic nos próximos meses. Dentre tantos absurdos com que convivemos talvez este seja o maior deles.

Rádio Itatiaia

Ouça a rádio de Minas