Editorial

Comemorar o acordo comercial entre União Europeia e o Mercosul pode ser precipitado

Concretização ainda depende do aval da Comissão Europeia e de 15 países-membros, representando pelo menos 65% da população do bloco
Comemorar o acordo comercial entre União Europeia e o Mercosul pode ser precipitado
Crédito: Reprodução

Soa precipitado o rufar de tambores diante do anúncio de que países europeus e sul-americanos chegaram a acordo, depois de 25 anos de negociações, para que seja posto em marcha processo de integração comercial entre União Europeia e o Mercosul. Na realidade, na reunião de Montevidéu, semana passada, representantes dos dois blocos chegaram a acordo sobre os termos dessa aproximação que, entretanto, só poderá ser efetivada com aval da Comissão Europeia e consequente adesão de 15 países-membros, representando pelo menos 65% da população do bloco. A França, que puxa a fila dos descontentes, é uma pedra de peso ponderável no caminho que ainda está por ser cumprido para que, afinal, o sonho de fato se materialize.

Bem compreendido o contexto, cabe, sim, exaltar o potencial da aproximação que vai sendo ensaiada. Afinal tudo gira em torno de um novo bloco que reúne 700 milhões de pessoas, tem um Produto Interno Bruto (PIB) de US$ 22, 3 trilhões, o equivalente a uma quarta parte do produto interno planetário. E fará sentido plenamente, na perspectiva dos interesses brasileiros se, de fato e como prometeu a presidente da Comissão Europeia, a quem coube o anúncio final sobre o desenho do acordo, se for de fato um ganha-ganha, traduzido em apoio mútuo, integração e plena colaboração.

Como, tudo faz crer, temos tempo pela frente, cabe ao Brasil, principalmente, impedir que erros do passado se repitam, que as relações comerciais sejam de fato pautadas pela busca de equilíbrio, não mais traduzindo tão somente relações de força, o que absolutamente não se pode perceber presentemente no comportamento dos franceses, numa arrogância mais próxima do passado colonial que propriamente do entendimento que a todos retribua. Tudo isso sem que seja perdido de vista também o risco de que a derrubada de barreiras sobre commodities agrícolas não tenha como contrapartida pressões que a indústria local não teria como suportar. Ou esquecer, como se desimportante fosse, que o Brasil é de longe o maior produtor mundial de café, enquanto a Alemanha, de onde não se tem notícias de um único pé plantado, é seu maior beneficiador, reservando-se, assim, a maior fatia dos ganhos.

Claramente o exemplo ilustra a verdadeira natureza das barreiras a serem removidas ou, numa outra perspectiva, dos riscos que podem permanecer, impedindo, assim, que se cumpra na sua plenitude os avanços representados pela integração verdadeiramente sonhada e desejável.

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