Editorial

Como entender o que se passa na educação brasileira

Para um país que parece ter como certo que educação é a chave para as transformações reclamadas nos campos social e econômico, é preciso entender o que se passa
Como entender o que se passa na educação brasileira
Foto: Reprodução Adobestock

Conforme dados do Censo da Educação Superior, com informações relativas ao ano de 2022, os mais recentes disponíveis, 9,4 milhões de estudantes estavam matriculados em escolas superiores no País naquele ano. Já o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informa que 19,7% dos brasileiros têm formação superior, bem distante do registro relativo aos países desenvolvidos, porém significativo se considerado que o percentual apurado equivale ao dobro, ou 7,9%, do início da década passada. Quantitativamente, sugerem os dados recolhidos e agora divulgados, foram registrados avanços relevantes, indicando que uma parcela maior de brasileiros foi capaz de abrir as portas que podem conduzi-los a um futuro melhor.

Cabe alguma cautela nessa avaliação. Em primeiro lugar faltaria entender a qualidade do ensino ofertado, padrão em que existem indicativos de que teria havido involução e não apenas nos estabelecimentos particulares, cujos padrões não raro se perdem na falta de recursos ou na busca de resultados a qualquer preço. Também as escolas públicas, universidades federais que no geral já foram padrão de excelência, perderam substância na mesma medida em que foram relegadas a segundo plano, perdendo verbas e recursos essenciais à própria manutenção. Para um país que parece ter como certo que educação é a chave para as transformações reclamadas nos campos social e econômico, para um país em que referências ao sucesso construído pela Coreia a partir de investimentos na educação viraram lugar comum, sobretudo nos palanques, é preciso entender o que se passa.

Sobretudo diante da informação de que hoje de 10 estudantes que recebem diploma de graduação superior apenas um consegue trabalho imediato e renumerado na sua área de formação. Tudo isso apesar da necessidade de mão de obra qualificada nas empresas ou da fuga para o exterior dos melhores talentos, justamente os que vão buscar lá fora as oportunidades que não encontram no seu país. Entender mais precisamente o que se passa, entender a natureza do descompasso entre vagas ofertadas e a real demanda do mercado de trabalho parece ser exercício fundamental para que jovens estudantes não tenham seus sonhos e esforços transformados em frustração. Evidentemente também para que os investimentos realizados não se percam.

Os dados já conhecidos, como aqueles apresentados neste comentário, oferecem pistas muito importantes para a necessária revisão, para fazer com que a formação universitária no país seja, como deveria ser, bem mais que diplomas para adornar paredes de pais ou estudantes orgulhosos. Há de estar bem próxima da realidade a conclusão de que falta foco na oferta de vagas, assim como pode estar faltando foco e orientação quando os estudantes fazem suas opções, não raro sem a percepção clara de que estão dando o passo mais importante de suas vidas na direção do futuro.

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Perder todo esse impulso, ou mesmo parte dele, é um luxo a que não podemos nos permitir. %

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