Editorial

Conflito de ideias e interesses impede governo de chegar à decisão final sobre corte de gastos

O buraco era e continua sendo bem maior do que muitos esperavam
Conflito de ideias e interesses impede governo de chegar à decisão final sobre corte de gastos
Crédito: Rafa Neddemeyer / Agência Brasil

Contrariando expectativas, o alto escalão da administração federal não logrou, até a última quarta-feira (13), chegar à decisão final sobre o corte de gastos apontado como essencial para que o equilíbrio fiscal esteja mais próximo da realidade. A rigor, são de baixa confiança as informações disponíveis sobre o que verdadeiramente se passa nos bastidores do governo em Brasília, ficando assim no ar a impressão de que as ponderações técnicas da equipe econômica não encontraram bons ouvidos nos meios políticos, aí incluído o próprio presidente da República, ao que se diz temeroso com relação aos efeitos, eleitorais inclusive, de políticas restritivas.

Esse conflito de ideias ou, mais acertadamente, de interesses, podia ser observado mesmo antes da posse, faz pouco menos de dois anos. A desordem nas contas públicas já era conhecida, foi bastante utilizada durante a campanha eleitoral, quando de hábito não faltaram promessas de que seria posta ordem na casa. De volta ao poder e, consequentemente, às barganhas necessárias para sustentá-lo, as boas ideias dos palanques foram rapidamente deixadas de lado. Imaginava-se que o aumento da arrecadação bastaria para produzir o milagre tão desejado quanto necessário.

Não aconteceu, mesmo com os resultados da arrecadação – e do crescimento da economia – tenham ficado bem além do esperado. O buraco era, e continua sendo bem maior, com os mais ajuizados reclamando energia e bolso, traduzidos em cortes e redução de despesas que, para as contas mais atuais, não poderiam, ou deveriam, ser inferiores a qualquer coisa perto dos R$ 50 bilhões. Ninguém parece duvidar de que é realmente preciso deter a gastança, porém desde que a tesoura não aponte para a direção desses observadores de ocasião.

Evidentemente que uma situação de descontrole orçamentário implica, de pronto, no adiamento das previsões de retomada do crescimento sustentável, o pilar em que repousa as esperanças de um reequilíbrio mais amplo, que, para o leigo, se traduz pura e simplesmente na possibilidade de enxergar que a estabilidade ou, além, a prosperidade pode sim estar ao alcance, mesmo que apenas na linha do horizonte. Resta alertar a quem adia, deliberadamente ou por falta de entendimento, decisões que são cruciais, que tocam também responsabilidades e obrigações de que estão investidos os agentes públicos, que dificuldades na economia são inexoravelmente cobradas nas urnas.

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